sábado, 17 de julho de 2010

O falso democrata

O sr. Aguirre, paradigma da democracia

Ainda bem que o Estadão existe. Sem ele perderíamos a chance de ler notas extremamente importantes para definir o papel que certas pessoas exercem no mundo de hoje - pessoas identificadas com o que de mais reacionário, no pior sentido, existe.
É o caso, por exemplo, de um tal de Alejandro Aguirre, presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). O sujeito, que é subdiretor do "Diario de Las Americas", jornal editado em Miami para a colônia hispânica, segundo relato do Estadão, simplesmente qualificou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um dos "falsos democratas" do continente.
A pesada acusação é devida ao fato de Lula, na opinião abalizada do sr. Aguirre, ter-se omitido diante da "censura" ao Estadão - e aí o jornal explica o caso: "A censura foi imposta pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) e está em vigor desde 31 de julho do ano passado. A proibição de veiculação de notícias sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, foi motivada por um pedido do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PDMP-AP)."
Notem bem: a "censura", como diz o próprio jornal afetado, foi movida pelo Poder Judiciário, é uma decisão de um tribunal (o jornal não informa que o caso em pauta estava sob sigilo de Justiça), e não tem nada a ver com o Executivo.
Bem, o sr. Aguirre não deve ser nenhum idiota. Se fosse, não teria chegado ao alto posto que ocupa na SIP, uma organização montada pelos americanos para congregar veículos de comunicação que rezam a cartilha neoliberal de Washington e exercer pesado lobby em seus países a favor dessa ideologia - para eles, tudo que sai um milímetro fora das regras do "livre mercado" é coisa do demônio, ou pior, de comunistas e tiranos sanguinários.
Ah, como eram bons os tempos da guerra fria...
Mas voltemos ao sr. Aguirre e à presunção lógica de que ele não é um imbecil qualquer. Então, por qual razão teria confundido tanto as coisas para afirmar o que afirmou, na maior cara dura?
A força desarrozada de seu ataque leva a crer que ele se dá muito mais na tentativa de desqualificar o governante brasileiro como uma das mais importantes forças políticas da região, nivelando-o a "colegas" mal-vistos por Tio Sam por terem ousado desafiar as ordens imperiais.
O sr. Aguirre não mira a defesa da liberdade da imprensa. Quer, isso sim, atacar o que o Brasil representa hoje no mundo - uma voz nova e forte, independente e altiva, democrática e responsável.
O relato do insuspeito Estadão não deixa dúvidas sobre o que pretende essa SIP e os "Aguirres" que tem no bolso:
"(A censura ao jornal) não foi denunciada pelo governante", acusou o presidente da entidade, que disse ainda que caráter de "falso democrata" de Lula não se limita a esse episódio.
Segue o Estadão: "Essa condição, argumentou, tornou-se evidente com a estreita relação do presidente brasileiro com os irmãos Fidel e Raúl Castro, de Cuba. Também é justificada pelos vínculos de Lula com líderes eleitos democraticamente, "mas que estão se beneficiando da fé e do poder que o povo neles depositou para destruir as instituições democrática".
O sr. Aguirre continua com sua canhestra aula sobre ideologia política e sistemas representativos: "Esses governos não podem continuar a se chamar de democráticos. O voto é componente sumamente importante na democracia, assim como a atuação dos governantes. Eu vi governantes com uma grande delicadeza com o presidente Castro, o que representa um grande apoio moral a esse governo, que violou os direitos humanos por meio século."
Mas não para por aí . Segundo o Estadão, "o presidente da SIP ainda incluiu o governo Lula na lista dos que 'atacam' os meios de comunicação, composta originalmente pelas administrações de Hugo Chávez, da Venezuela; de Cristina Kirchner, da Argentina; de Rafael Correa, do Equador; de Evo Morales, da Bolívia; de Daniel Ortega, da Nicarágua, e de Porfírio Lobo, de Honduras."
E por aí vai a cansativa ladainha neocon do presidente da SIP, "uma organização sem fins lucrativos dedicada a defender a liberdade de expressão e de imprensa em todas as Américas", segundo está escrito com destaque em seu site.
É assim mesmo: "Sem fins lucrativos e dedicada a defender a liberdade de imprensa." Acredite quem quiser.

Um comentário:

  1. Essa SIP é arquimanjada. É um braço da CIA e está metida em todos os golpes de estado que os gringos já promoveram na America do Sul.
    Veja no blog do Brizola, ao lado dessa mesma noticia uma outra da BBC denunciando o pagamento de 10 jornalistas cubanos pelo governo americano (ergo CIA).
    http://www.tijolaco.com/?p=20440

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