sexta-feira, 9 de julho de 2010

As mazelas do futebol

O caso do goleiro Bruno, acusado de ser o mandante do assassinato de uma moça com a qual teve relações extraconjugais - e um filho - faz a festa da mídia.
O noticiário, como se espera de uma imprensa tecnicamente fraca, carrega as tintas na morbidez, nos detalhes sórdidos.
O personagem principal da história colabora para isso: nome de destaque no futebol brasileiro, tem tudo para reviver casos criminais que ficaram famosos na história.
Tudo se repete. Infelizmente.
Digo isso porque essa seria uma boa oportunidade para que pessoas sérias abordassem, por exemplo, o papel dos clubes de futebol na formação de atletas.
Todo mundo sabe que a maioria esmagadora dos jogadores é das camadas mais pobres da população. O goleiro Bruno não foge a essa regra.
Quando alguns poucos conseguem se destacar e ser contratados por um time de ponta, está aberto o caminho para o sucesso profissional - e financeiro. E para todas as enormes pressões que acompanham a vida de uma celebridade popular.
Os exemplos de jogadores que tiveram sucesso nos campos e fracassaram completamente na vida pessoal são inúmeros. O goleiro Bruno é só mais um da extensa lista.
Certa vez, um dirigente de um dos grandes clubes do futebol brasileiro, em conversa informal com um grupo de jornalistas, afirmou que 70% dos jogadores do time principal bebiam. Foi além: disse que uma das estrelas do elenco às vezes chegava tão embriagado aos treinos matutinos que precisava ser "escondido" da imprensa, sob a justificativa de que estava fazendo algum trabalho de "fortalecimento muscular" ou algo do gênero.
Perguntado sobre as razões que levaram ao declínio técnico de um jovem que havia começado muito bem a temporada, o dirigente foi sucinto:
- Ele descobriu a noite paulistana, suas facilidades, as mulheres e a bebida.
- Mas e o que o clube pode fazer para recuperá-lo? - perguntamos.
- Nada além do que já está sendo feito pelo técnico, que é deixá-lo na reserva, sem jogar. Não podemos interferir na vida pessoal de cada jogador - disse o cartola.
E assim é até hoje. Uma sociedade que exalta valores como o consumismo desenfreado, a riqueza rápida e sem escrúpulos, a posse do dinheiro como o valor mais alto, é um formidável criadouro de sociopatas.
O futebol, essa fábrica de ilusões, segue a regra. Porta de saída da pobreza para uns poucos, é também a porta de entrada para o inferno para muitos.

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