quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Brincar com fogo


Como esperado, a notícia dada pela Folha de que a FAB concluiu, em seu relatório técnico, que comprar os caças da sueca Saab e não os da francesa Dassault, é o melhor para o Brasil, criou a confusão diária desejada pela imprensa.
Num momento em que o governo Lula vive o auge de sua popularidade é justo que a oposição contra-ataque com as armas que tem. Afinal, o prazo para a largada para a corrida rumo ao Palácio do Planalto se estreita e é normal que os competidores reforcem seus preparativos.
Mas existem limites para tudo, precisam entender esses arautos do caos. Usar certos temas para criar a impressão de que o atual governo é composto por um bando de trapalhões, de populistas irresponsáveis e falastrões, de mistificadores e arrivistas, é, como se diz popularmente, brincar com fogo.
Todos sabem o que as Forças Armadas fizeram no Brasil num passado recente. Não é preciso explicar que o militar, por formação, trata-se de um sujeito conservador, metódico, preso à disciplina e à hierarquia, que ainda divide o mundo entre "nós", os bons e certos, e "eles", os maus e errados - nem é preciso dizer, também, quem são "eles".
O governo Lula tem procurado reparar um erro dos governos anteriores, especialmente os dos tucanos, que simplesmente esqueceram que os militares existiam, deixando seus equipamentos apodrecerem e, principalmente, seus salários congelarem em níveis baixíssimos. Essa mesma compra de caças para a FAB deveria ter sido feita por FHC, que, com medo de desagradar uns e outros, passou o abacaxi para seu sucessor.
Os militares podem fazer todas as ressalvas do mundo a Lula, mas, por uma questão de Justiça, são obrigados a reconhecer que recebem deste governo um tratamento infinitamente melhor do que o dado pelos outros presidentes civis do período pós-ditatorial. De uma forma ou de outra, a recomposição salarial está sendo promovida e o orçamento federal, ano a ano, tem permitido reequipar as três Forças.
Os comentários de vários jornalistas sobre as notícias da compra dos caças são feitos num tom evidente de intriga, da pura fofoca.
Por acaso, ouvi um debate entre alguns desses comentaristas hoje de manhã num programa "noticioso" da rádio Bandeirantes AM. Os erros factuais se sucediam: um deles promoveu o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, a "ministro da Aeronáutica"; o outro se referiu às vantagens que a Embraer poderia obter se os suecos ganhassem a "licitação", se esquecendo que também a Dassault se comprometeu a firmar parceria com a empresa brasileira.
Um festival de bobagens e desinformação, promovido com a intenção clara de dar ao ouvinte a impressão de que este realmente é um governo formado por completos imbecis.
Pode ser que essa propaganda influencie algumas pessoas na hora do voto - afinal, ela existe para isso.
O problema todo é que ela também pode ajudar a fazer crescer a barba de alguns radicais que ainda existem nas Forças Armadas - e não estou falando dos generais de pijama que passam os dias no Clube Militar a lembrar os bons tempos que se foram.
O risco é mínimo, mas não devemos esquecer que a Lei de Murphy, assim como a da gravidade, ainda não foi revogada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário