sábado, 26 de dezembro de 2009

Quem ri por último

Os jornais e revistas tinham o costume de fazer, nesta época do ano em que as redações folgam, e em que, inexplicavelmente, as notícias escasseiam, edições com a retrospectiva do ano - uma coisa chatíssima, só para encher espaço.
O costume foi mudando ao longo do tempo, os textos longos e desnecessários foram cedendo lugar a imagens mais atraentes, a eleição dos "fatos que marcaram o ano" deu lugar a análises interpretativas e prospectivas. Hoje, acho que são poucos os veículos que ainda se apegam à velha fórmula.
Longe de qualquer pretensão de reviver, nestas humilíssimas crônicas, a receita que tanto entediou leitores e aborreceu jornalistas, quero, só para que fique registrada minha indignação, lembrar aquilo que foi, para mim, o fato jornalístico mais marcante deste surpreendente 2009 -na verdade uma sequência de ocorrências de uma mesma instituição.
Todos devem se lembrar quando, no início do ano, a Polícia Federal deu conhecimento de uma ampla operação que implicava o "banqueiro" Daniel Dantas e inúmeros comparsas numa série de crimes. Pois bem, creio que essa foi a notícia mais relevante deste 2009 que chega ao fim, porque desencadeou uma série de fatos que expuseram, como nunca antes, no imaginário popular, a face mais sórdida do nosso Poder Judiciário.
As decisões que favoreceram amplamente o dono do grupo Opportunity, somadas a outros acontecimentos, não serviram apenas para reforçar a péssima imagem da Justiça brasileira, desde há tempos imemoriais acusada de favorecer os abastados e punir com exemplar eficiência os despossuídos.
Elas contribuíram também para solidificar a impressão de que uma democracia não avança apenas na base da boa vontade de um grupo de pessoas que esteja exercendo o poder.
É preciso, antes de mais nada, mudar os costumes de maneira radical, e isso só é possível por meio de um longo e penoso processo, que envolve educação melhor, distribuição de renda mais equitativa, maior acesso à informação. Em suma, a construção da cidadania.
De nada adianta os nossos jornais bradarem em pomposos editoriais pela ética na política, se essa mesma ética não é vista no Judiciário. Ou mesmo na própria imprensa.
Daniel Dantas conseguiu erguer o seu império porque soube usar a seu favor as enormes distorções de um sistema social que tem no capital seu principal valor.
Em 2009 o "banqueiro" mostrou o quanto é forte nesse ambiente corrupto que ainda permeia as instituições brasileiras.
A dúvida que fica é o quanto de fôlego ele terá para sobreviver nessa nova sociedade que está se criando no país.

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