quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O mito da eficiência empresarial


Depois de passar cerca de 40 minutos, divididos em dois telefonemas, ouvindo música da pior qualidade entremeada por mensagens sem nenhum sentido, tive a percepção de que um dos axiomas mais divulgados nesta nossa sociedade - a ineficiência do setor público - deveria ser mudado.
Sim, pois se o setor público é ineficiente, o que falar então do privado?
Os telefonemas foram feitos para a Eletropaulo e tinham como objetivo saber a que horas a energia elétrica voltaria ao prédio em que moro, já que ela havia sido interrompida depois da ventania que assolou meu bairro no começo da tarde do feriado de segunda-feira.
As informações dadas pelos atendentes da empresa não ajudaram muito. O serviço foi normalizado apenas no começo da noite - os dois funcionários erraram feio.
Dessa vez, porém, pelo menos consegui ouvir uma voz do outro lado da linha. Sinal que, se a Eletropaulo ainda está muito longe de cumprir o que manda a legislação que disciplina o atendimento ao consumidor, pelo menos já parece não ignorar que existe um cliente insatisfeito. Meses antes, numa situação similar à deste feriado, não consegui falar com ninguém.
A concessionária de energia elétrica paulistana é um bom exemplo de uma empresa privada ineficiente, pois presta um serviço de péssima qualidade. Ficou evidente que seus atendentes não dispunham de informações sobre o andamento do conserto da rede. E que o reparo demorou mais que o necessário - cerca de seis horas, num dia de trânsito absolutamente tranquilo.
Mas não é somente ela que contraria o mito da eficácia do setor privado. Basta ver que, à testa do ranking das reclamações do Procon estão as gigantes de telecomunicações e do setor bancário.
Embora eu não seja nenhum especialista no assunto, é relativamente fácil perceber que as empresas brasileiras sofrem de males variados, que, em síntese, revelam a fragilidade de suas administrações.
Rapidamente, listei alguns dos problemas que são facilmente observados em grande parte das companhias:
1) Desperdício;
2) Má qualidade do serviço/atendimento ao consumidor/pós-venda;
3) Práticas desleais de concorrência (formação artificial de preço, concentração, venda casada);
4) Práticas aéticas de negócio (pagamento de suborno, corrupção);
5) Sonegação fiscal;
6) Desrespeito às leis trabalhistas;
7) Desrespeito à legislação do consumidor;
8) Desprezo ao papel social da empresa.
Pode haver quem diga que eu não tenho nada com isso, pois se a empresa é privada, não tem ações negociadas em Bolsa, o dono faz o que quer com ela. Mas é claro que uma alegação dessas só teria sentido se vivêssemos num sociedade pré-capitalista, mais de 200 anos atrás.
Um país que está entre as dez maiores economias do mundo e almeja chegar ainda mais longe precisa discutir seriamente a atuação de seu setor empresarial, sem preconceitos de nenhuma espécie.
Alimentar essa falácia de que tudo que vem do setor público é ruim e tudo que é privado é bom vai além da irresponsabilidade: chega a ser criminoso.

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