domingo, 18 de outubro de 2009

Crime sem punição


Desde setembro do ano passado, quando a crise econômica internacional começou, a indústria de transformação do Brasil perdeu 282 mil empregos com carteira assinada, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged, do Ministério do Trabalho. No mesmo período, o saldo entre demissões e admissões do comércio foi positivo em 219 mil trabalhadores.
Como se sabe, a indústria produz, na maioria dos casos, para o comércio vender. Simples. Então como explicar o descompasso existente entre os empregos exterminados pelo setor, que indicariam uma retração abissal nos pedidos do varejo, e o saldo positivo dos postos de trabalho do comércio?
O presidente Lula, num de seus últimos discursos de improviso matou a charada: os industriais brasileiros entraram em pânico com as notícias de que estava vindo uma crise econômica, talvez por terem a Folha, o Estadão, a Veja e O Globo como guia de vida - exatamente porque tais publicações dizem o que eles querem ouvir.
Foi uma carnificina. Se o governo federal não tivesse reagido imediatamente e espalhado pela economia brasileira os antídotos antirrecessão que fizeram o tsunami que se anunciava se transformar na marolinha prevista por Lula, nossos capitães de indústria estariam, neste momento, com a consciência pesada por terem desempregado tanta gente - isso se tivessem consciência.
Como a economia do país se recupera de maneira tão rápida que nenhum dos nossos mais ilustres analistas pensava ser capaz, é provável que em breve o crime cometido pelo patronato industrial caia no esquecimento - afinal, não dizem que este país tem memória curta?
O episódio, de qualquer maneira, serve para que as pessoas realmente interessadas em que o Brasil vá para a frente façam uma reflexão, pois não é possível que um setor tão importante quanto o industrial continue a ser gerido da maneira irresponsável que se viu nesses últimos meses.
Na verdade, a falta de planejamento, a insensibilidade social, a sede do lucro fácil, a obediência cega à filosofia que exige levar vantagem em qualquer circunstância, não são recentes.
Essas práticas vêm de longo tempo, parecem ser uma segunda pele desses nossos capitalistas que têm por hábito xingar o Estado na maré a favor e gritar por socorro quando a primeira onda os atinge.
São como parasitas, que sobrevivem apenas às custas dos troncos fortes.

Um comentário:

  1. Excelente a sua reflexão; assino em baixo. Nota dez disse tudo de forma clara. Parabéns.

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