Em 1960, quando Jânio Quadros, Adhemar de Barros e o marechal Henrique Teixeira Lott disputavam a eleição presidencial, eu tinha seis anos de idade e, evidentemente, não compreendia o que significavam aqueles "santinhos" que meu pai, o capitão Accioly, levava para casa, nem aquele pequeno broche no formato de uma espada que ele, orgulhosamente, exibia na lapela do paletó.
Foi só alguns anos depois, quando o país se encontrava mergulhado nas trevas do golpe militar, que entendi que tudo poderia ter sido diferente se a espada do marechal Lott tivesse partido aquela ridícula vassoura janista, que, com a promessa de varrer a sujeira, acabou escondendo-a debaixo do tapete.
A história, porém, como tudo na vida, não é feita de "se". A tragédia que a vitória de Jânio precipitou felizmente já faz parte do passado. A nação, se viveu duas décadas de sofrimentos e desencantos, finalmente soube aprender a lição e hoje, mergulhada na reconfortante água da democracia, acha seu rumo entre as maiores do mundo.
E já é capaz de entender que para, continuar nessa trajetória exitosa, tem de, não apenas exorcizar seus mais feios demônios, mas exaltar aqueles que, por suas vidas, por seus exemplos, ajudaram a construir esse inexprimível sentimento de brasilidade que sobra em alguns poucos e falta em muitos outros.
Como o marechal Lott, uma das figuras mais importantes e injustamente esquecidas da história recente do país.
Leio, com imensa satisfação, que o produtor cinematográfico Jorge Moreno está terminando os preparativos para levar à tela a vida desse notável brasileiro, que, entre outros feitos, não permitiu que a UDN e seus raivosos seguidores impedissem a posse de Juscelino Kubitschek - em outras palavras, dessem um golpe contra o presidente legitimamente eleito pelo povo.
Lott foi um constitucionalista radical, um ferrenho seguidor da lei e dos valores éticos, sobre o qual até os piores inimigos não tinham uma mancha sequer para atacar.
Sua magnífica biografia está no livro "O Soldado Absoluto", de Wagner William (Editora Record, 571 páginas), que serve de base para o roteiro do filme em preparação.
É uma pena que ainda tão poucos brasileiros, principalmente os das gerações mais novas, conheçam a vida do marechal Lott - algo que o filme de Jorge Moreno poderá, em parte, redimir.
O pior mesmo é saber que personalidades como ele, tão raras e preciosas, pouco sirvam de inspiração para a maioria dos nossos homens públicos - sujeitos pequenos de ideias e de atitudes.
Olá,
ResponderExcluirParabéns por seu blog e em especial por esse texto sobre o Marechal Lott.
Concordo com sua visão e o que escreveu sobre ele. Aliás, sou muito parecida com ele na maneira de pensar sobre a democracia e a constituição.
Um abraço,
Izabel Lott
PS: descobri você por um amigo e adorei!
Belo post, Motta. Como você mesmo descreveu, é um personagem sobre o qual pouquíssimo se fala. O motivo me parece claro: ele foi contra golpes e, principalmente, contra o golpe de 1964.
ResponderExcluirUm dia, certamente, ele e outros personagens terão o reconhecimento merecido. Um abraço! (LAP)
Izabel e Pandini,
ResponderExcluiragradeço comovido seus comentários. Não fiz nada além do que uma humilde, porém sincera, homenagem a um ilustre personagem a quem reverencio como, acima de de tudo, um grande brasileiro.
Um abraço do amigo
Motta
Contava meus 15 anos quando o Mal. Lott concorreu à Presidência contra Jânio Quadros.
ResponderExcluirHomem íntegro, militar honrado,um legalista, era respeitado em qualquer estabelecimento militar que adentrasse.
Fiz escola militar (Exército) e ao findar o curso optei pela vida civil, mas sempre fui admirador deste exemplar brasileiro!
Meus parabéns pelo artigo.