segunda-feira, 25 de maio de 2009

Deserto de ideias

Um dos meus tipos inesquecíveis, o sociólogo Antonio Geraldo de Campos Coelho, ou, simplesmente Coelho para quem teve o privilégio de conhecê-lo, era um anticomunista ferrenho. Mas a sua pregação se fazia estritamente no campo intelectual. O Coelho adorava discutir marxismo e temas afins - e se dedicava a isso, essencialmente, com o pessoal da esquerda daquela Jundiaí ainda provinciana em que viveu uma vida honrada e proveitosa.
Passava horas expondo as suas teses de desconstrução do marxismo e tomando a sua cervejinha (Antarctica, somente). Uma de suas maiores queixas era que ele, um sujeito estudado, achava contendores apenas no campo oposto ao seu. O Coelho dizia que um operário que fosse membro do Partido Comunista sabia debater melhor temas de ciência política que qualquer intelectual de direita. Isso, acrescentava, se houvesse algum intelectual de direita.
Essas lembranças do Coelho remontam há mais de 30 anos. Mas, a julgar pelo que se vê nos programas de televisão, se lê nas revistas e jornais de nossa ¨grande¨ imprensa, e na própria internet, pouca coisa mudou.
A direita brasileira continua a ser um deserto de ideias - fora a repetição da velha cantilena sobre a necessidade do Estado mínimo, o que ela oferece?
É certo que o fim da URSS e seus satélites, assim como, agora, a crise econômica global, desconcertaram a maioria dos intelectuais dos dois lados (além fronteiras há, sim, pensadores de direita). Mas, ao mesmo tempo, ofereceram muitos temas para estudo.
Uma pena o Coelho ter morrido antes de ter visto as certezas da turma de Wall Street virarem pó. Embora grande parte de suas convicções também desaparecesse tal qual os trilhões de dólares perdidos com os papéis podres, tenho certeza de que ele ia encarar o acontecido como uma imperdível oportunidade para ampliar a sua interminável busca do conhecimento.
Pois ao contrário desses intelectuais de araque que desfilam títulos, repetem chavões e puxam o saco de editores e patrões para ter seus minutinhos de fama, o Coelho era capaz de pensar por si só. Mesmo que ninguém entendesse o que ele queria dizer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário