domingo, 11 de janeiro de 2009

Gosto de veneno

O DVD nos dá o que a TV nos esconde. Com um pouco de paciência é possível descobrir obras fantásticas, verdadeiros tesouros perdidos. Ou gratas surpresas: Frank Capra, o cineasta do idealizado sonho americano, quem diria, era também um feroz crítico deste nosso modo ocidental de ver as coisas apenas pelos nossos olhos.
"O Último Chá do General Yen" ("The Bitter Tea of General Yen") é um de seus filmes menos conhecidos. Produzido em 1933, tem Barbara Stanwyck e Nils Asther como protagonistas. Ela, uma americana que acaba de chegar a uma China convulsionada pela guerra civil para se casar com um missionário; ele um dos inúmeros "senhores da guerra" que dividiam - e disputavam o poder. Ela acaba "hóspede" do general, em seu palácio. Ele se apaixona por ela. O choque cultural é inevitável. Ela não compreende seu modo de agir - o refinado general a choca com sua lógica implacável, suas maneiras refinadas e o pragmatismo de suas ações de déspota. E trava uma luta íntima para não se render à sua paixão por esse "bárbaro".
E o que era para ser um melodrama, acaba se transformando numa sutil peça sociológica: até que ponto o ser humano é capaz de se livrar de suas crenças e aceitar as do próximo, ou, em outras palavras, quem de nós pode se apregoar o direito de dizer que está completamente com a razão?
Hoje, 76 anos depois de "O Último Chá do General Yen" ser exibido pela primeira vez nos cinemas, o grande dilema do homem continua sendo a sua incapacidade de aceitar o diferente. Israelenses bombardeiam palestinos, americanos matam iraquianos e afegãos, muçulmanos e cristãos se odeiam, brancos se julgam superiores a negros. Todas as formas de opressão e preconceito apenas aumentam sem parar.
O veneno com que o general Yen adoçou o seu último chá parece ter contaminado a Terra.

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