terça-feira, 19 de agosto de 2008

Para ser "o país"

No velório de seu pai, Dori Caymmi expressou a sua dor pela perda dando a dimensão do homem e o artista que acabara de morrer:

"Queria que ele tivesse me levado para o cemitério porque eu não tenho a grandeza que ele tem. Ele foi o maior brasileiro que conheci na vida. Fui criado, educado e conheci o repertório de paixão pelo país através de meu pai, que era um homem despojado e sem ambição. Ele acreditava que este país era 'o país'. O Brasil não podia perdê-lo agora, não podia perder pessoas como ele, como Jorge Amado. Está um vazio, está tudo big brother. Eu sou vingativo, meu pai não era, mas eu quero a cabeça dos que metem a mão nos cofres públicos do Brasil."

Dorival talvez não apoiasse as palavras de Dori. Modesto, é quase certo que nem compreendesse o valor de sua obra, a grandeza de seu legado, a importância de suas músicas na formação cultural brasileira.

Dori, por sua vez, no seu desabafo, foi direto ao ponto: o Brasil pode mesmo ser "o país" , como dizia seu pai, mas para isso não pode prescindir da sabedoria de gente como Dorival Caymmi, como Jorge Amado, entre tantos outros.

É bobagem querer que, com o tipo de gente que hoje dá as cartas, gente sem nenhum talento, sem emoção, sem paixão nenhuma, gente dissimulada e fútil, sem instrução ou vontade de aprender, gente avara, hipócrita, desprovida de generosidade, o Brasil venha a ser "o país".

Um país sem Dorival, sem Jorge, sem tantos outros não lembrados por Dori, é triste, pequeno, vazio.

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