Em "O Rato que Ruge", o ducado de Grand Fenwick vai à guerra contra os Estados Unidos para se salvar da bancarrota. Na comédia de 1959 dirigida por Jack Arnold e brilhantemente interpretada por Peter Sellers, o minúsculo país acaba derrotando a superpotência - e aí as coisas se complicam.
O filme marcou época por brincar com temas sérios em plena Guerra Fria. Quando foi lançado, o mundo era outro, talvez tão sombrio quanto o atual, mas definitivamente diferente: os mitos podiam se tornar reais e a prova disso é que o pequeno David vietcong pôs o Golias americano de joelhos apenas duas décadas depois da estréia da película.
O presidente da insignificante Geórgia, Mikhail Saakashvili, pode ter um nome quase impronunciável pelos ocidentais, mas é para eles que se volta desde há muito tempo. Estudou nas melhores universidades americanas, absorveu o mais profundo do american way of life e todos os seus conceitos de democracia.
E, tão logo assumiu o poder, mostrou ser um leal e devoto seguidor dos ideais do grande líder dos povos George W. Bush.
Uma de suas mais sinceras provas de amizade foi enviar 2 mil de seus melhores soldados para lutar ao lado das forças da civilização no bom combate contra o império do mal iraquiano.
Saakashvili gosta tanto da América que foi capaz de cometer por ela um ato de genuína insensatez. O desafio que lançou à Rússia não pode ser entendido de outra forma. Na sua concepção fenwickiana de estratégia, deve ter achado que este era o momento adequado para dar uma dolorida ferroada no urso russo, esperando, como compensação por tanta audácia, uma ajuda providencial de seus amigos de ocasião.
Ele acredita que as milhares de mortes de seus concidadãos e os bilhões de dólares de prejuízos em infra-estrutura são um preço baixo que seu país vai pagar pelo glorioso futuro que as forças democráticas do Ocidente proporcionarão à valente Geórgia.
Sua versão real da comédia sobre o ducado de Grand Fenwick é falha, porém, em um ponto: os russos estão, desde a ascensão do czar Putin, se preparando para mostrar que podem voltar a ser protagonistas no jogo global do poder.
E, como se sabe, a patada de um urso furioso pode não ser precisa, mas é, geralmente, mortal.
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