Como o capitalismo é um sistema dinâmico e no qual perder tempo é perder dinheiro - e o dinheiro é tudo! -, os assim chamados empreendedores estão à toda depois dos acontecimentos dantescos que chocaram o país.
Mãos à obra, disseram, vendo o mercado se expandir com surgimento de uma nova classe de consumidores. Primeiro foram os miseráveis da E que ascenderam à D, que, por sua vez deixaram de ser pobres para virarem simplesmente médios - movimentos provocados por um governo que criou programas sociais, reajustou o salário mínimo e domou a inflação, entre outras medidas.
Na mesma proporção, aumentou o número de ricos, gente que soube surfar nessa onda gigantesca de reacomodação das classes. Foram espertos, palmas para eles.
Mais tolos foram os que se deixaram pegar com a boca na botija alheia, para escândalo de autoridades dos mais variados setores, que os tinham em elevada estima e consideração. Pois numa atividade sem precedentes, os policiais resolveram trabalhar com a cabeça e não só com os músculos. Assim, tiveram êxito em missões consideradas impossíveis pelos personagens envolvidos e os crimes cometidos.
Se as prisões ainda não estão cheias dessa nova classe de criminosos é porque eles ainda gozam de regalias só proporcionadas pelos valores amealhados por suas lucrativas e subterrâneas atividades. O dinheiro compra tudo, diz o senso popular.
Mesmo assim, alguns desses novos larápios têm passado por maus momentos, vítimas do que se convencionou chamar de "espetacularização". São assim submetidos à suprema humilhação de serem algemados - isso mesmo, algemados! Ou então, despertados em plena madrugada. Ou até jogados em celas medievais, sem o conforto do papel higiênico de folha dupla.
Atentos, nossos empreendedores viram que esses episódios abrem uma excelente oportunidade para ampliar seus negócios. É a lei do mercado, que ordena suprir os desejos de consumo de quem pode pagar por eles.
Portanto, não se espantem se logo, logo, campanhas com atores globais anunciarem, com a sutileza e a eficiência que só os nossos publicitários têm, novos produtos para essa emergente e promissora classe.
Coisinhas como algemas forradas para não machucar a pele, óculos escuros que cobrem o rosto todo, camisas de colarinhos coloridos (o branco está tão comum!), luvas que podem ser usadas também em clima tropical (acabe de uma vez com as impressões digitais), alarmes que detectam policiais a vários quilômetros de distância, telefones mudos para evitar grampos, paredes e cofres falsos de diferentes cores e texturas.
Nossos empreendedores saberão, certamente, ampliar essa, por enquanto, pequena lista de objetos úteis.
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