É triste assistir a um Estado da tradição política, cívica e cultural como o Rio Grande do Sul ser achincalhado dessa maneira que se vê.
As revelações do que se passa nas entranhas do poder local chocam principalmente porque comprovam que a corrupção, o assalto despudorado aos cofres públicos, o domínio da máquina estatal apenas para dela se servir, não são privilégios de uma espécie política que se supõe anacrônica ou incrustada em grotões carentes do verniz civilizatório que brilha sobre a superfície desta recém-nascida República.
Os protagonistas desse grotesco espetáculo são pessoas educadas, cultas, bem postas na sociedade em que se criaram. Representam a elite, não vieram dos extratos mais baixos e necessitados da população, não são novos ricos que ainda buscam seu lugar entre os mais influentes, nem sindicalistas emergentes que se deslumbraram com as tentações do poder recém-obtido.
Por isso não há justificativas para o que fazem. Não há como explicar seus atos, senão como resultado de uma disseminada crença de que no Brasil tudo é lícito desde que todos fiquem satisfeitos. A lei, neste caso, é apenas um obstáculo a ser superado, nunca um impedimento.
De certa forma, porém, o episódio pode ser benéfico para as esperanças de consolidação democrática no país. Mesmo que o destino dos personagens dessa tragédia fiquem impunes, restará o consolo de saber que no jogo político não existe, como faz supor amplo espectro do pensamento dominante, apenas mocinhos de um lado e bandidos do outro.
Como dizia aquele velho herói dos quadrinhos, "só o Sombra sabe o mal que há no coração dos homens".
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