Sempre disposto a criticar o governo Lula, o cientista político Leôncio Martins Rodrigues salvou mais uma pauta do Estadão. Bastou o vice-presidente, José Alencar, falar que acredita que o povo quer Lula mais tempo no poder para Rodrigues voltar ao seu tema favorito: o terceiro mandato presidencial.
Para ele, a manifestação de Alencar é mais uma prova de que sua tese é verdadeira: Lula não só ambiciona, mas trabalha dia e noite pela continuidade no poder.
Se o presidente viaja, diz Rodrigues, é porque ele está em campanha. Se ele reiteradamente nega qualquer intenção de ganhar um novo mandato, é porque "o grande líder político deve saber despistar e esconder seus verdadeiros objetivos".
Entre as provas "indutivas" que lista inclui uma pergunta: "Para onde irão os ex-sindicalistas se o PT perder o governo federal? Para suas antigas ocupações é que não." E acrescenta um elemento factual para tornar sua teoria ainda mais plausível: "Lembro-me que o presidente, quando ascendia como grande líder sindical, declarou diversas vezes que nunca seria candidato a nada porque não tinha jeito para política..."
Uma entrevista notável, sob vários pontos de vista. E didática.
Mostra, por exemplo, como é fácil fazer esse tipo de "jornalismo" que prolifera nas páginas dos jornalões e na internet. A agenda de telefones dos setoristas está cheia de nomes de "especialistas" dispostos a falar, a qualquer hora, a qualquer dia, sobre seus temas prediletos.
Não faz mal que o repórter já saiba de antemão o que o entrevistado vai responder ou que a conversa seja desprovida de qualquer conteúdo mais profundo. Basta identificar quem fala com um título qualquer (cientista social é bom; filósofo, melhor ainda; professor já serve) e depois de meia hora de bate-papo, extrair algumas frases que dêem um título aceitável.
O prato está pronto para ser servido. Não importa que seja só de abobrinhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário