quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Intruso na festa

Numa atitude de bom senso, o STJD negou a suspensão preventiva que o procurador Wagner Nascimento, a pedido do presidente do tribunal, Paulo Schmit, queria para o jogador chileno Valdívia, do Palmeiras. Ele esteve envolvido em dois lances mais ríspidos no jogo contra o Vasco da Gama, que acabaram virando, no jargão da chamada "crônica esportiva", agressões.
O chileno será agora julgado pelo tribunal como qualquer outro jogador envolvido nas confusões de uma peleja. Mas o fato de o presidente do tribunal, algumas horas depois de partida, ter dito que iria pedir a sua suspensão preventiva - como se a simples presença de Valdívia num jogo fosse ameaça à integridade física dos demais jogadores -, revelou uma face pouco vista no futebol brasileiro: a xenofobia.
Pois só isso pode explicar a extrema má-vontade com que grande parte dos "cronistas esportivos", dos árbitros, dos técnicos, e dos jogadores, vê a participação de Valdívia no Campeonato Brasileiro.
Chamado no seu país de El Mago pela habilidade que possui, Valdívia é, segundo as estatísticas, o maior driblador do torneio, o que, certamente, incomoda os adversários. Por isso, se tornou moda - exatamente como Robinho em seus tempos de Santos - usá-lo como saco de pancadas.
Na teoria, um jogador com essas características - talentoso, de raciocínio rápido, extremamente técnico, capaz de dar dribles desconcertantes e com um repertório de jogadas muito grande - seria excelente para o espetáculo. Mas, na visão dos "cronistas esportivos", ele é um "cai-cai", um "provocador", sujeito que só arranja confusão. Para esses especialistas em futebol, se Valdívia apanha é porque merece. Se revida, é porque é destemperado e não tem condições de jogar profissionalmente e, portanto, merece ser punido. Nada é dito sobre seu desempenho esportivo - e não é para isso que existem os tais especialistas?
Por essas e por outras, fica a impressão de que o chileno não é bem-vindo na festa do futebol brasileiro. Driblar, para nossos "cronistas" tem de ser exclusividade de garotos de pele escura e pernas finas. Nessa visão esteriotipada, quem tem um biotipo diferente é um reles intruso. Principalmente se falar uma língua em que tudo termina em "on" e detestar pagode.

As histórias fictícias que poderiam ser reais estão em Contos do Motta

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