sexta-feira, 4 de maio de 2007

Pobre pensador

A indústria da comunicação tem criado alguns personagens inacreditáveis. Um deles, que freqüenta com incrível facilidade as páginas dos mais importantes jornais do país, é o economista Fábio Giambiagi, que pertence aos quadros do Ipea.
Pois bem, dia desses, Giambiagi escreveu um artigo intitulado O Brasil e a "cultura do coitado" para o Valor Econômico. É um exemplo acabado da indigência - ou mau caratismo - de certa parte da "inteligência" brasileira.
Giambiagi diz que é preciso substituir a "visão paternalista do governo, ainda fortemente impregnada nos corações e mentes, por uma atitude mais parecida com a que vigora nos países que mais crescem no mundo". A que país aspiramos? - pergunta, para responder: "Com a Constituição de 1988, na prática optamos pelo modelo de 'dar o peixe'. Aos poucos, porém deveríamos migrar para o modelo de 'ensinar a pescar'. A 'migração' consistiria em deixar de privilegiar políticas baseadas na distribuição de renda através de um sistema puro e simples de transferências, por outras que enfatizem uma maior igualdade de oportunidades". Ele exemplifica: "O governo deveria dar a cada indivíduo, essencialmente, saúde e educação básicas, além de uma Justiça que funcione (...) Tendo recebido isso, cada cidadão teria de abrir o seu próprio caminho."
Simples, não? Talvez sim para o eminente economista. Mas não para os milhões de excluídos que não têm emprego, nem comida, nem casa, nem transporte, nem sequer roupa, mas que, segundo ele, com saúde, educação e Justiça que funcione estariam prontos para enfrentar, em igualdade de condições, seus patrícios bem nascidos - e muito mais bem nutridos.
É preciso ensinar a pescar, pontifica o eminente economista, sem explicar como esse chavão pode virar realidade sem que antes se distribua o peixe - que evita que o pescador morra de fome.
Já dizer que os "países que mais crescem no mundo" desamparam seus cidadãos não é apenas desonestidade intelectual. É ignorância plena.
Giambiagi pode ser um eminente economista. Mas é um péssimo exemplo de intelectual.

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