sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A septicemia, o colunismo social e o Judiciário

O presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, José Renato Nalini, acha que o Brasil vive hoje um "quadro de septicemia", diagnóstico feito num artigo publicado no "Jornal de Jundiaí" - para quem não sabe, o dr. Nalini nasceu nessa cidade paulista e antes de se formar em direito foi colunista social. Começou sua carreira no extinto "Diário de Jundiaí".
O colunismo social, é bom explicar, não tem nada de social. É um sub-gênero do jornalismo que se dedica a retratar a vida dos ricos, ociosos, "famosos" e poderosos. No tempo em que o dr. Nalini se empenhava nessa função, o país estava mergulhado na ditadura militar, então era normal que quem trabalhasse nessas pequenas publicações do interior fizesse nada mais do que um jornalismo insosso, laudatório, com quase nenhuma preocupação de mostrar a realidade da região em que atuava. Notícia de verdade era material escasso nas suas páginas. 
Coluna social, então...

Posso estar completamente errado, mas acho que integrantes do Judiciário deveriam ser pessoas reservadas, que guardassem as suas opiniões, principalmente sobre política partidária, para seu círculo de amizades, em vez de torná-las públicas. 
Nesse ponto, o dr. Nalini evoluiu muito desde que redigia - e ele era um excelente datilógrafo - as notas sobre o crème de la crème da sociedade jundiaiense.
A atividade do dr. Nalini como comentarista político e econômico é agora intensa. E seus escritos refletem, com notável precisão, o pensamento das classes dominantes do país, como nesse seu diagnóstico arrasador da septicemia que arruína o Brasil. 
É bom lembrar que antes desse seu artigo para o "Jornal de Jundiaí", o dr. Nalini havia se manifestado sobre uma questão delicada envolvendo o Judiciário, sobre o auxílio-moradia que foi concedido aos juízes. Num telejornal da TV Cultura ele fez uma bizarra defesa da medida, que imediatamente ganhou repercussão nacional: 
“Esse auxílio-moradia na verdade disfarça um aumento do subsídio que está defasado há muito tempo. Hoje, aparentemente o juiz brasileiro ganha bem, mas ele tem 27% de desconto de Imposto de Renda, ele tem que pagar plano de saúde, ele tem que comprar terno, não dá para ir toda hora a Miami comprar terno, que cada dia da semana ele tem que usar um terno diferente, ele tem que usar uma camisa razoável, um sapato decente, ele tem que ter um carro. Espera-se que a Justiça, que personifica uma expressão da soberania, tem que estar apresentável. E há muito tempo não há o reajuste do subsídio. Então o auxílio-moradia foi um disfarce para aumentar um pouquinho. E até para fazer com que o juiz fique um pouquinho mais animado, não tenha tanta depressão, tanta síndrome de pânico, tanto AVC etc."
Como se vê pelo arrazoado que apresentou em justificativa ao auxílio-moradia para uma das categorias profissionais mais bem remuneradas do país, o dr. Nalini parece que ainda se sente mais à vontade vestindo o traje do colunista social de um jornal do interior do que o de um desembargador.
Já quanto ao artigo do "Jornal de Jundiaí", ele é tão carente de lógica, tem tantas imprecisões, e está tão distante da realidade, amplificando as críticas mais rasteiras que a oposição faz ao governo trabalhista, que só pode ter sido escrito por alguém que vê o Brasil através de uma lente focada num passado felizmente distante.
Aí vai ele na íntegra:

Quadro de septicemia

Não são apenas as pessoas que se infeccionam e, quando têm escassa imunidade, tendem a perecer. As economias também podem ser acometidas de graves crises e chegar a um quadro de septicemia. É o que alguns realistas falam do Brasil em 2015.
A crise de infraestrutura resulta de uma constatação singela: a taxa de investimento não atinge 16% do PIB, a mais baixa em décadas. O ambiente fiscal está deteriorado e opaco, a gerar incerteza e insegurança. Mais da metade dos créditos advém dos Bancos Públicos. O custo do crédito é muito alto. Uma enormidade que inibe empreendimentos privados. A inflação foi manipulada, o que logo se perceberá.
O cenário tem prognóstico de medidas paliativas e antipáticas, próprias de um governo hiperativo e sem rumo. É o sistema que está errado. Mas nada indica venha a ser alterado. A Reforma Política não se fará por aqueles que restarão prejudicados por ela. Pode funcionar uma República de quase 40 partidos? Os governos são reféns das coligações e loteiam Ministérios e Secretarias, sem o que não haveria governabilidade.
É claro que nem tudo é terror. Houve queda da pobreza, mas a população não está inteiramente feliz. O brasileiro ainda ostenta renda média correspondente a 20% daquela do cidadão ianque. Paga um tributo elevado e tem um serviço público de péssima qualidade. É alvo de populismo, um discurso pobre calcado em promessas e visão ufanista de uma realidade que as pessoas experimentam de forma diversa, muito diferente daquilo que se apregoa.
O que fazer? Preparar-se para dias tenebrosos. Não haverá milagres, mas se o rumo vier a ser alterado - e não há outra alternativa - o povo experimentará sangue, suor e lágrimas. Estagnação, recessão, realinhamento de preços. Sem os investimentos estrangeiros que se assustam com o “custo Brasil”. Quem vai trazer dinheiro para um Brasil em que o passivo trabalhista, o passivo tributário, o passivo ambiental são permanentes e imprevisíveis?
A profissão do brasileiro é a esperança. Sua companhia de caminhada: a coragem. Sua convicção: Deus é brasileiro e tudo dará certo. E assim ele torra o décimo terceiro comprando o que nem sempre estaria na primeira lista das necessidades. Tomara que a Providência venha a suprir o que falta em juízo para os responsáveis pelo descalabro.

2 comentários:

  1. O que é "creme de la creme"? É pra comer, essa porcaria? Caramba como esse pessoal daselite chora e joga conversa fora! Imagina quando Lulão desfilar no royroger presidencial em 2018.

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