terça-feira, 3 de abril de 2012

O mundo é dos espertos


Viver em São Paulo se torna a cada dia que passa um exercício de masoquismo. Não bastasse os índices alarmantes de violência, que só aumentam, as carências nas áreas de saúde, educação e transporte público, para ficar só nas mais essenciais, não fosse a sujeira em todo o lugar, a poluição de todo o tipo que só permite ver um céu de um azul esmaecido, quase cinza, eis que o encarecimento dos serviços avança de braços dados com a sua deterioração.
Indo trabalhar, ouço no rádio que o estacionamento do Shopping Butantã cobrou R$ 100 para quem deixasse lá o carro para ir ver o show de Roger Waters, no estádio do Morumbi. O preço normal é de R$ 4. E o gerente do estacionamento teve a cara dura de dizer que não houve nenhum aumento abusivo, pois os clientes foram avisados previamente do preço. Além disso, explicou que o aumento foi para "selecionar" a freguesia: segundo disse, eles queriam um público classe A, que, nas suas palavras, é mais educado. Também justificou a exorbitância pela necessidade de contratar mais seguranças - que acabaram brigando com clientes que quiseram ir embora sem pagar. Coisas do público classe A...
Dias antes leio que o famosíssimo Bar do Leo, dito e havido como o lugar onde se tira o melhor chope de São Paulo, vendia gato por lebre, ou Ashby por Brahma. A inacreditáveis R$ 9 a tulipa! Além disso, preparava seus quitutes com comida estragada ou sem procedência definida.
Esse tal de Bar do Leo nunca me enganou. Ou melhor, quase me enganou, certa vez que fomos lá, eu e minha mulher, e pedi ao garçom, com toda a educação do mundo, que colocasse duas fatias de tomate num sanduíche de queijo prato. A resposta do sujeito foi uma frase que não deixava dúvida do tipo de lugar em que estávamos:
- Nós não fazemos isso aqui.
O cara, talvez em nome da alta gastronomia praticada no lugar - um boteco sujo, escuro, desconfortável, como milhares de outros espalhados pela cidade -, contrariou tudo o que o bom negociante deve fazer, ou seja, dar sempre razão ao freguês. E por isso, e também porque já não tenho idade para aturar imbecis ou picaretas ou ladrõezinhos de meia tigela, me levantei, acompanhado de minha mulher, e fomos embora, sem remorsos nem arrependimentos.
Mas em São Paulo as coisas funcionam assim mesmo. Um lugar como esse botequim de quinta categoria pega fama, sabe-se lá o motivo, e depois deita na cama, vive anos e anos explorando os tontos que vão lá comer comida estragada e beber chope falsificado, pagando os olhos da cara e sendo pessimamente atendidos por garçons que parecem ter saído das escolinhas do PCC.
Quis dar esses dois exemplos - o estacionamento do Shopping Butantã e o bar do Leo - porque acho que eles sintetizam o espírito do prestador de serviços paulistano, que tem aproveitado da maneira mais predatória possível este bom momento econômico que vive o país, aumentando preços sem nenhuma justificativa, abusando da imaginação para bolar formas de ganhar o que puder o mais rapidamente possível, sem se importar o mínimo que seja com o pobre do consumidor.
Dei os dois exemplos, mas agora, bem no fim desta "crônica" me lembrei que amanhã, quarta-feira, os supermercados voltam a cobrar pelas sacolinhas de plástico - em nome da salvação do planeta, é claro.
E eis que me vem à cabeça as imagens daquele comercial de cigarro, lá pelos anos 70 ou 80, protagonizado pelo Gerson, que expressava a alma dos brasileiros - não de todos, felizmente - e no qual ele concluía que  "o importante é levar vantagem em tudo, certo?"
Como se vê, tantos anos depois as coisas não mudaram muito, certo?

4 comentários:

  1. Falou tudo.

    Com o acrescimo que quem cria "super
    potencias" e "necessidade básica"
    como essa boteco bar(ca furada) do
    (bele)léo é a imprensa pig,principal-
    mente as editorias de lazer da folha,estagrinho,epipoca e a sejinha,
    com as redações infestadas de otavinhos (vide emir sader) que fazem a cabeça das folhetes,vejetes,estadetes e novetes(leitoras de nova, a revista
    das periguetes)e que acham que o povo "precisa ir" onde quer que eles do pig indiquem.
    Por fim, concordo com o articulista
    com essa historia de serviços caros.Principalmente se alimentar
    fora de casa. Deveria simplesmente
    nao aceitar isso e se alimentar em
    casa.Infelizmente uma boa parte em
    quanto pode paga, mas até quando
    vai ter grana pra tal?
    Se estou fora, eu passo num mercado
    compro 1 ou 2 frutas, lavo num lugar com agua corrente e como.
    É o que posso gastar.

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  2. Prezado Sr.,

    Do jeito Que se coloca no aguardo texto, São Paulo é o poor lugar para se viver. Dá a impressão Que nesta grande metrópole só há mau caráter, a procura de otários para se aproveitarem.
    No entanto, gostaria de Lembrá-lo Que isto não é privilégio de São Paulo, não. Em todos os lugar/ cidades, deparamo-nos com estes problemas. O homem está perdendo a humanidade em todos os lugares infelizmente. Dada a proporcão é lógiicon Que encontraremos mais essoas desonestas Que em cidades menores. Mas, também encontraremos muitos pessoas e coisas boas.
    Infelizmente o Que as pessoas saber Fazer e bem é criticar. Mas, elogiar fica cada Vez mais difícil. Não só em São PauloMas, em todos os lugares....

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  3. Prezado anônimo,
    me ajude então a encontrar algo ou alguém que eu possa elogiar. Terei o máximo prazer em fazer isso. Você não sabe o quanto estou de saco cheio de aturar ladrõezinhos oficializados em "prestadores de serviço" ou comerciantes. Ah, e não me venha com esse papo de que "fulano é honesto", pois honestidade é a primeira coisa que a gente espera encontrar em alguém. Para alguém merecer ser elogiado é preciso que ele faça não só o que se espera dele, mas muito mais que os outros deixam de fazer.
    E, para terminar, por favor, da próxima vez que frequentar este espaço, se identifique: não é agradável conversar com alguém que não sabemos quem é.

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  4. Prezado sr Motta,

    Não estou solicitando elogios.
    Apenas comentei que em tudo e todos há coisas boas e ruins a serem considerados.
    Nada é esencialmente ruim. Nada é essencialmente bom.
    Nem eu, e acredito, nem o sr somos perfeitos. Assim como todo o resto da humanidade. Temos nossas qualidades e defeitos... O sr acredita que é 100% bom. Que nunca quis levar vantagem em alguma negociação? Infelizmente, isso faz parte da natureza humana... às vezes somos mesquinhos mesmos. Egoístas. Queremos levar vantagem sobre os outros (veja o trânsito de São Paulo e de outros lugares também). Porém, há momentos que somos conscientes, e não deixamos esse tipo de atitude chegar ao extremo.
    O que eu quis dizer ao escrever o comentário anterior é que simplesmente as pessoas apenas criticam mas, nunca ressaltam as qualidades de São Paulo. Mas, em outras cidades este tipo de problema ocorre também. Além disso, se São Paulo fosse só coisas horríveis, por que as pessoas viriam /ficariam aqui ao invés de permanecer em outras cidades? Não há nenhuma lei ou obrigatoriedade para tal. Então deve haver alguma qualidade... Nem que seja oferecer oportunidades de conquistar uma qualidade de vida melhor, né? Se não valesse a pena, o sr acha que as pessoas ficariam aqui??
    É lógico, há muita malandragem. Assim como em Santos, Rio ou Salvador. Em Paris ou em Londres também poderemos encontrar pessoas querendo levar vantagem. Tudo dependerá da consciência das pessoas e da educação para reprimir este tipo de comportamento.
    Quanto ao anonimato, percebi que já havia um comentário postado como anônimo e por esse motivo também postei o meu assim. No entanto, acho que a troca de idéias é o mais importante para o nosso crescimento como pessoas e não se eu me chamo João, Maria ou José.
    Bom... Vou ficando por aqui.
    Por favor, não me interprete mal. Nem quis ofendê-lo com meus comentários.
    Só quis lembrar que realmente há muuuiitttaasss coisas a serem melhoradas em São Paulo mas, há muitas coisas boas a serem valorizadas também. Será que de vez em quando alguém poderia escrever alguma coisa boa de Sampa?

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