quinta-feira, 27 de maio de 2010

Acima da mediocridade

No dia 5 de dezembro do ano passado publiquei uma "crônica" intitulada "A lição do mestre", que abordava a iniciativa do desenhista e gravador Marcello Grassmann, um dos mais importantes artistas brasileiros, de vender, numa edição especial, 189 magníficas gravuras em metal.
Claro que, apesar do preço ser altamente convidativo, o exclusivíssimo lançamento se destinava a um público de alto poder aquisitivo ou a fundações ou museus de arte - existem tantos espalhados pelo país.
Achava que vários deles se interessariam pelo verdadeiro tesouro que lhes era oferecido.
Tola ilusão! Ontem, uma mensagem recebida de Paulo Grassmann, sobrinho do grande artista, informava sobre o desinteresse dos mecenas tupiniquins em apoiar a arte maior de Marcello Grassmann.
Reproduzo a mensagem na íntegra porque ela é um depoimento importante sobre uma certa mentalidade que domina essa tal "elite" do país, tão apegada a modismos passageiros quanto desligada dos verdadeiros e mais importantes criadores da arte brasileira:

Como vai caro Motta, há um tempo você postou "A LIÇÃO DO MESTRE" sobre a edição especialissíma de Grassmann. Pois é, "dizem" que o mercado de arte está superaquecido, obras compradas por milhões... menos Grassmann. Sua obra/edição especial é desprezada!!! Ele não conseguiu absolutamente ninguém interessado, Milu Vilella e tantos outros não "a querem"... A edição "desprezada" da obra de GRASSMANN
está em www.marcellograssmann.blogspot.com
Uso um texo de Dirceu Villa para expressar meu pesar.
"Que Grassmann seja um dos nossos maiores artistas não há ou não deveria haver nenhuma dúvida; que se fale dele e se o veja — e este é evidentemente o principal — tão pouco em exposições, em livros, naquilo que se chama a mídia, afinal, é motivo de dúvida: ou nos tornamos uns verdadeiros estúpidos, ou se trata de uma estupidez mais branda, embora estupidez ainda, a de termos nos esquecido.
Não é difícil encontrar algumas de suas obras originais aqui e ali, no meio de paisagistas medíocres, de enormes porcarias que se vendem para enfeitar as paredes dos Jardins. O difícil é que elas sejam devidamente apreciadas, que haja o reconhecimento necessário para focalizar sua obra, e ensiná-la; mesmo porque boa parte de sua obra se constitui de gravura. Isso se deve dizer porque ainda há um preconceito provinciano de categorizar gravura como uma arte menor, ou menos nobre que a tela — para a arte contemporânea é bom recordar que essa distinção inexiste, uma vez que os meios escolhidos não são esses e que a tela só vale alguma coisa se for bem velha, ou é considerada pelos cultivados ignorantes um passadismo dos mais ridículos. Mas para essa máquina inconsistente, o mercado de arte, funciona assim. Por esse motivo não vemos Grassmann ser valorizado como deve (é sempre decoroso lembrar que não se trata de um privilégio dele; há também, por exemplo, Arnaldo Vieira): especialistas e alguns interessados específicos a conhecem, mas é um artista cuja obra deveria ser estudada, exposta."


Só para terminar: são poucos os países do mundo que podem se orgulhar de possuir um artista do porte de Marcello Grassmann. Desprezar a sua arte é, antes de mais nada, sinal inequívoco de uma enorme, incomensurável estupidez.

3 comentários:

  1. Maravilhosa esposicao do artista no espaco da Caixa Cultural no Rio de Janeiro!!! um dos nossos icones na gravura - do metal a xilo...

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  2. Maravilhosa a exposicao de Grassmann que esta acontecendona Caixa Cultural no Rio de Janeiro! Um de nossos icones da gravura! do metal a xilo...

    Marcia Estellita Lins

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