Certa feita, quando eu era ainda um jovem que acreditava que o mundo tinha jeito, fiquei quase uma tarde inteira trancado na sala do dono do jornal em que trabalhava, na então pequena Jundiaí. Minha espinhosa tarefa era arrancar do sujeito um aumento para alguns colegas de redação.
Julgava, já que tinham me dado um cargo qualquer de chefia, que era meu dever incentivar a equipe que se formava - e não há, até hoje, estímulo melhor do que ser bem pago.
Gastei toda a saliva que pude, mas meu sucesso foi inversamente proporcional ao meu esforço. O homem era duro, duríssimo na queda, e não se comovia com nada. No máximo, prometeu alguns trocados a mais num futuro incerto.
Quando me levantei da cadeira, exausto pelo esforço despendido em argumentos que o indivíduo exterminava instantaneamente, com a crua e implacável lógica de que não tinha verba para bancar mais gastos com funcionários, e já incomodado pelo gosto amargo da derrota, ouvi uma frase que não esqueci até hoje, tal a dose de cinismo que carregava:
- É por isso que eu gosto da juventude - disse com a sua voz estridente o dono daquele jornal de Jundiaí. Os jovens são idealistas e os idealistas trabalham por amor, são baratos, custam pouco.
Com o tempo percebi que a raiva que senti naquele momento era injustificada. Afinal, eu tinha tido a rara oportunidade de presenciar não só a maneira como agem, mas também como pensam esses homens que fazem parte daquilo que se convencionou chamar de a elite brasileira.
A sentença daquele tosco patrão foi definitiva para entender que, tão importante quanto escrever uma boa matéria é saber que o trabalho do jornalista faz parte de uma engrenagem meramente empresarial.
Tudo, na imprensa nativa, do folheto de bairro à Folha ou ao Estadão, é apenas um negócio. Notícia é mercadoria como outra qualquer.
Por isso não me descabelo (como se pudesse fazê-lo...) quando leio os cotidianos disparates que se cometem em nossa mídia.
É que deixei de ser jovem faz tempo.
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