O país das oportunidades é, na verdade, nada mais que um país cheio de contradições - como muitos outros. E que precisa, urgentemente, de mudanças, constata o prêmio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman - ele mesmo, americano. Em entrevista a Christian Chavagneux, redator-chefe de Alternatives Economiques, reproduzida pelo site da agência Carta Maior, Krugman explica e critica.
A seguir, algumas de suas opiniões sobre as mazelas do sonho americano:
"Bush fez duas coisas. Mudou o sisitema fiscal num sentido muito regressivo, com reduções muito fortes nos impostos sobre as rendas mais altas, os dividendos e os lucros do capital. Ele beneficiou os mais ricos e ao mesmo tempo reduziu os fundos disponíveis para as políticas públicas e para a ajuda aos mais necessitados."
"O governo Bush, por outro lado, acelerou a perda de poder de negociação dos assalariados, reduzindo em muito toda possibilidade de organização sindical."
"Os Estados Unidos fazem parte daqueles países em que as desigualdades cresceram muito. Isso não acontece do mesmo modo no Canadá, que está tão aberto quanto nós, e menos ainda na Europa continental."
"(Para evitar a degradação social é preciso) em princípio instaurar um sistema de seguro saúde que seja universal, que cubra toda a população. Todos os países desenvolvidos tem algo parecido. E a falta de cobertura social representa uma das primeiras causas da desigualdade e da perda de mobilidade social. Aí, é necessário estabelecer um sistema educativo melhor, o que eixige reformas mas também recursos. Por fim, é necessário aumentar o poder de negociação dos assalariados, facilitando a formação de sindicatos."
"Os Estados Unidos continuam sendo um lugar privilegiado para os 5 % dos mais ricos. Os rendimentos dos dirigentes são altos. Os EUA são uma sociedade aberta. Tratamos muito bem nossas elites. Como acadêmico, sempre me surpreendeu a abertura, a competitividade do mundo intelectual norte-americano em relação ao mundo relativamente mais fechado da Europa. Isso melhorou nos últimos tempos. Mas também vivemos de nossas glórias. Os EUA foram, de há muito, os primeiros a se adaptarem a novas tecnologias. Isso hoje mudou. Estamos atrasados em relação a outros países. Uma grande parte da força econômica dos EUA é hoje uma ressonância do avanço que tivemos nos anos 90."
Ah, só mais uma coisa: para reverter esse quadro sombrio, Krugman receita mais impostos:
"De um modo geral, precisamos de mais entradas financeiras. É preciso reverter a queda nos impostos do governo Bush. Tivemos uma economia muito próspera com o governo de Clinton, com um imposto sobre as rendas de mais de 39,6%, e uma economia menos próspera com Bush, apesar de um imposto de 35%. Não há argumento racional que suporte continuar por esse caminho. Por outro lado, não há por que aceitar paraísos fiscais e os desvios que eles permitem. Por fim, há uma margem para aumentar a carga de impostos sobre os mais ricos. O objetivo não é penalizar os ricos, mas sim fazê-los pagar sua parte do financiamento das políticas públicas que o resto da população precisa."
Uma remédio que, certamente, deixaria tucanos e demos de cabelos em pé.
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