Entre os jornalões, o Estadão é o que menos pratica o que mais prega, ou seja, a democracia. Tem uma visão maniqueísta do mundo, não aceita as diferenças, é ideologicamente radical em sua posição conservadora. Chega a ser cômica a sua volúpia em esculhambar o governo Lula. Seus editoriais oscilam entre o raivoso e o surreal, seus articulistas foram escolhidos a dedo entre o que de mais retrógrado existe na direita brasileira e até a sua seção de cartas exibe uma unanimidade patológica. Seria inacreditável se não fosse real.
A seguir, alguns exemplos da opinião dos leitores, tirados de uma mesma edição:
"A equipe do governo Lula manterá a imunidade do País à crise econômica mundial até o dia 26 de outubro. Por coincidência, o dia marcado para o segundo turno das eleições municipais. Acorda, Brasil!"
"Esperamos que o presidente Lula não aja como seu antecessor Ernesto Geisel, que no fim dos anos 70 fingiu que a crise do petróleo não havia chegado ao Brasil e deu no que deu: duas décadas de estagnação."
Cumprimento o exmo. sr. senador Marco Maciel e o Estadão pelo artigo Proer blindou o sistema bancário brasileiro (30/9, A2), que nos faz recordar os bons momentos do governo FHC, que deixou uma "herança bendita" de estabilização econômica para o Brasil. Os ocupantes do atual governo, que tanto criticaram e dificultaram a implantação do Plano Real, deviam ter a integridade moral de reconhecer os méritos do Proer e os benefícios da estabilização do sistema bancário, que, sem usar recursos orçamentários, proporcionou a situação que temos hoje. Parabéns!"
"O nosso presidente realmente tem muita sorte. Não é competência, é sorte mesmo. Deixou abertamente os bancos ganharem tanto dinheiro, para que os banqueiros o deixassem em paz, e agora, com a crise, não precisa recorrer ao Proer. É sorte, sim. Ou não é?"
"É duro ter que ouvir do "rei" Lula: "Nós fizemos tudo para ter uma boa política fiscal, fizemos tudo para ter tranqüilidade." Deve estar falando de algum outro país, distante do Brasil, pois aqui a carga fiscal é das mais injustas do planeta. Melhor seria se tirasse da gaveta a reforma fiscal, que solenemente há tantos anos ignora."
"Que grande exemplo de país e de democracia, com D maiúsculo, são os EUA! Em plena corrida presidencial, os dois candidatos deram um tempo em suas campanhas e se uniram pública e oficialmente em torno dos interesses do país neste momento de crise. E o Congresso norte-americano, ao rejeitar o pacote econômico que injetaria bilhões de dólares do contribuinte nos bancos e empresas, fez isso às claras e pensando justamente nos contribuintes, ainda que sejam estes a suportar a crise, pois, no entendimento tanto dos democratas como dos republicanos, não é justo ou correto usar dinheiro público para cobrir prejuízos do setor privado. Que exemplo! Enquanto isso, aqui, na "Bananalândia", o Congresso Nacional está em férias brancas... "
E por aí vai, no mesmo tom, no mesmo diapasão. E isso num momento em que o governo atinge aprovação recorde. É como se o mundo real não existisse e o jornal vivesse isolado em uma bolha, em outro tempo, em outra dimensão...
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