terça-feira, 27 de outubro de 2015

Suplicy, a Livraria Cultura e o veneno do fascismo

O ex-senador Eduardo Suplicy desde há muito não é unanimidade entre os eleitores do PT.

Em diversas ocasiões desviou-se da orientação partidária, tomou decisões unilaterais, deu declarações que contrariavam as do partido, agiu, enfim, como um corpo estranho na legenda.

Mas, pesando tudo isso, é óbvio que Suplicy, em todos seus anos de vida pública, é um raro exemplo de sinceridade, honestidade e coerência intelectual entre seus pares.

Tanto assim que, apesar de alguns rompantes de puro marketing, que ajudaram a desgastar a sua imagem de professor universitário, economista e jornalista, ele sempre foi tratado com extrema urbanidade por seus colegas de todos os partidos, aliados ou adversários do PT.

Além disso, Suplicy deixou duas marcas importantes em sua vida legislativa: a obsessiva peregrinação para divulgar e emplacar o seu projeto de renda mínima, que de certa forma vem sendo desenvolvido pelo Bolsa Família, e a sua defesa intransigente dos desprotegidos e das vítimas de injustiças de toda espécie.


Em resumo: Suplicy pode ter vários defeitos, mas é um humanista - e, neste mundo em que vivemos, os humanistas são uma espécie que tem de ser preservada - e louvada.

O fato de um bando de fascistas, claramente financiados para agir como tais, ter insultado Suplicy, em plena Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na capital paulista, é um episódio que, em vez de denegrir o ex-senador e atual secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, o honra.

As palavras de ordem que vomitaram - "Suplicy, vergonha nacional" - dão bem uma ideia do que esses debiloides representam: o lumpesinato intelectual, se existe essa classificação, gente que é incapaz até mesmo de concatenar a mais rasa ideia sobre convivência social ou de adotar a mais primitiva concepção da vida em civilização.

Bem, vamos deixá-los de lado, porque ninguém será capaz de transformar tais homúnculos em seres humanos.

O triste dessa história toda é o fato de o incidente ter ocorrido numa livraria, não qualquer uma, mas a mais conhecida do Brasil, talvez a de maior faturamento, uma potência em seu setor, frequentada não só pela classe média que lê livros de auto-ajuda, mas por artistas, estudantes e intelectuais, e cuja publicidade sempre procurou destacar o que seu nome representa - a cultura.

Anos atrás, um maluco matou um freguês no mesmo local a porretadas desferidas com um taco de basebal. 

De lá para cá, parece, a direção da empresa pouco fez para garantir a segurança de seus frequentadores e de livrá-los de constrangimentos.

No caso específico da agressão contra Suplicy, simplesmente ignorou a ação dos fascistas.

O vídeo que corre na internet mostra bem isso: a inação completa dos funcionários, como se toda aquela confusão fosse a coisa mais normal do mundo.

Certamente por isso a página da Cultura no Facebook está inundada de comentários repudiando a omissão dos seguranças e da diretoria da empresa no lamentável episódio.

De tudo isso, resta uma lição: a ação desses grupelhos Brasil afora tem de ser contida e não estimulada, velada ou abertamente, como agora.

O risco de que algo mais grave que xingamentos possa ocorrer brevemente é muito grande.

O melhor remédio para debelar o fascismo é tratá-lo como o veneno que é, ou seja, exterminá-lo do corpo social antes que ele o infecte completamente.  

2 comentários:

  1. Os que disseram ser Suplicy uma vergonha nacional são os mesmos que, não há muito, diziam ser os milhões de cunhas.
    Para quem tem como referência gente como Cunha, talvez Suplicy seja mesmo uma vergonha.
    Vergonha? Vergonha alheia dessa gente, isso sim!

    Sidnei

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  2. As lacraias rastejam, e o Senador Suplicy nem ao menos atenta. Há mais o que fazer nesse País que perder tempo com vermes.

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