segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Quem você pensa que é?

Como não quero ficar de mal com o mundo, resolvi ser o menos intolerante e preconceituoso possível.

Mas confesso, não é nada fácil adotar essa atitude, vamos dizer assim, contemplativa.

As coisas que leio, que fico sabendo, são de acabar com a paciência de qualquer um.

Um exemplo é o caso do ciclista paulistano que foi xingado de "comunista" por um motorista, que quase o atropelou pelo simples fato de ele ser ... um ciclista numa cidade que, em certos estratos sociais, tem no ódio o combustível do dia a dia.

Para esse motorista indignado com o fato de existirem pessoas que preferem a bicicleta ao carro para se locomover, o termo "comunista"  - ou "petista" - é uma ofensa pior que qualquer outra. 

Para mim, porém, ser chamado de "comunista" ou "petista" ou algo similar é um elogio.


Afinal, foi o meu próprio pai, o saudoso capitão Accioly, quem me ensinou que os comunistas eram aqueles sujeitos que lutavam por um mundo menos desigual, mais justo, mais humano, no qual não houvesse a exploração do homem pelo homem, sem pobres ou ricos, entre outras tantas coisas que enaltecem a civilização.

Quanto ao termo "petista", que para o motorista que tentou atropelar o rapaz em sua bicicleta, é um tremendo xingamento, ele não soa, para mim, tão elogioso quanto "comunista", mas quebra o galho para a minha autoestima.

Afinal, foram os petistas quem conseguiram, com a sua social-democracia tropical, diminuir a execrável desigualdade social que marca o Brasil há séculos, além de terem, em apenas uma década, feito o país ser respeitado perante as outras nações como uma potência que deve de ser ouvida sobre todas as questões importantes para o planeta. 

Então, é graças a essa minha nova conquista interior, que me permite, antes de tomar qualquer atitude radical, entender as razões do outro, que até compreendo a atitude do motorista indignado com as bicicletas.

Deixando de lado o fato de que ele deveria estar torrando de calor dentro de seu carro, se arrastando a uma velocidade de poucos metros por hora, a gente tem de considerar o fato de que ele, provavelmente, é um pobre coitado que cresceu se informando pelos telejornais da Globo e das outras redes de televisão, foi educado achando que, em nossa sociedade, quem não tem dinheiro é um merda, que acredita que o mundo foi formado em sete dias e o pastor de sua igreja é um sábio, e o Silvio Santos é o exemplo perfeito das virtudes da "meritocracia".

Sem contar que seus pais lhe puseram na cabeça, por terem sido doutrinados por seus avós, que cada um deve saber qual é o seu lugar nesta vida.

Sendo assim, dá para comparar um carro que custa, no mínimo, R$ 40 mil, com uma bicicleta que qualquer um compra por R$ 300?

Sai da frente, rapaz. 

Quem você pensa que é?

4 comentários:

  1. Quando o Adir terminar de vomitar, me avise por favor, que eu vou em seguida.

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  2. Texto perfeito, inda bem bem que não sou anônimo.

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  3. Anônimo também é gente!
    Pelo direito do anonimato!
    Não humilhe o anônimo!
    O anônimo pode ser seu primo!

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  4. Só podia ser aquela praga!
    Givanildo. Seu canalha!

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