quarta-feira, 17 de junho de 2015

Um mundo dividido pela violência


A marcha-a-ré que o Brasil ensaia rumo aos velhos tempos em que a desigualdade econômica e social aprofundava o seu subdesenvolvimento, parece, não é uma exclusividade do país: o relatório "Índice Mundial da Paz", de 2015, divulgado pelo Instituto para Economia e Paz mostra que praticamente todo o planeta anda mal das pernas, cada vez mais dividido entre pobres e ricos, com regiões imersas em conflitos armados que parecem não ter fim.

Alguns números do estudo são impressionantes, como o que mede o impacto da violência na economia global, que atingiu o valor de US$ 14,3 trilhões (!), correspondente a 13,4% do PIB mundial no ano passado. Só para comparação, o valor equivale à soma das economias do Brasil, Canadá, França, Alemanha, Espanha e Reino Unido.

Segundo o relatório, essa quantia monstruosa de dinheiro, que poderia ser gasto para tarefas mais dignas e capazes de servir ao progresso da humanidade, se deve, entre outros fatores, à escalada das guerras civis e a consequente crise de refugiados.

O press release distribuído pelo Instituto para Economia e Paz está recheado de dados que formam um painel preocupante a respeito dos rumos que a Terra, graças à insanidade de muitos governantes, à ambição generalizada de suas lideranças econômicas e políticas, ao fanatismo religioso e à iniquidade de regimes variados, está tomando.


Índice Mundial da Paz 2015 mostra um mundo cada vez mais dividido

Pacifismo na Europa atinge seu mais alto ponto histórico

No Oriente Médio a violência está se intensificando

O impacto da violência na economia global atingiu o valor de US$ 14,3 trilhões ou 13,4% do PIB global no ano passado, o que é equivalente as economias combinadas do Brasil, Canadá, França, Alemanha, Espanha e Reino Unido.

Muitos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) atingiram níveis historicamente altos de paz, graças a quedas nas taxas de homicídio, nos níveis de dispêndios militares e nas ações militares.

A Islândia lidera o Índice como o país mais pacífico do mundo e a Síria como o país menos pacífico.

A paz na região do Oriente Médio e Norte da África (MENA) está em seu nível mais baixo desde 2008 e a região cai para a última posição no Índice pela primeira vez.

O crescimento de atividades terroristas se expandiu do MENA para a África Subsaariana, com os maiores aumentos registrados na Nigéria, Camarões e Níger.

A intensidade de conflitos armados aumentou dramaticamente, com o número de pessoas mortas em conflitos, globalmente, subindo mais de 3,5 vezes, de 49.000 em 2010 para 180.000 em 2014.

O total de mortes decorrentes do terrorismo em 2014 aumentou em 9%, para cerca de 20.000.

Quase 1% da população do mundo é, agora, de refugiados ou de pessoas deslocadas internamente (PDIs), o nível mais alto desde 1945, e a expectativa é de que a quantidade deve aumentar.

A escalada das guerras civis e a consequente crise de refugiados estiveram entre os principais fatores do aumento do custo de contenção da violência global, de acordo com o Índice Mundial da Paz (GPI -- Global Peace Index) de 2015, divulgado pelo Instituto para Economia e Paz (IEP -- Institute for Economics and Peace), um think-tank global.

Desde 2008, o total do impacto econômico da violência aumentou em US$ 1,9 trilhão (+15,3%). O total do impacto econômico dos  refugiados e PDIs aumentou em 267% desde 2008 e, agora, totaliza US$ 128 bilhões. Entretanto, os dispêndios militares, a quantidade de homicídios e as forças policiais permanecem entre as categorias mais dispendiosas, respondendo coletivamente por 68,3% do custo total.

O fundador e presidente-executivo do IEP, Steve Killelea, declarou: "A redução de conflitos é uma plataforma política essencial para assegurar a continuidade da recuperação econômica do mundo. Se a violência global sofresse uma redução de 10%, uniformemente, um montante de US$ 1,43 trilhão seria efetivamente adicionado à economia mundial. Para colocar isso em perspectiva, esse valor é mais de seis vezes o total do resgate financeiro e empréstimos concedidos à Grécia pelo FMI, BCE e outros países da Área do Euro combinados".

No geral, os níveis da paz mundial permaneceram estáveis em 2014, mas abaixo dos níveis de 2008. Entretanto, a pontuação geral disfarça uma divisão crescente entre as nações mais e menos pacíficas. Desde o ano passado, 81 países melhoraram seus níveis de pacifismo, enquanto 78 pioraram.

Muitas nações europeias estão experimentando, agora, níveis históricos de paz, com as taxas de homicídio caindo, os dispêndios militares reduzidos e a retirada das forças do Iraque e do Afeganistão. Em contraste, países tradicionalmente nas piores posições do índice, tais como Iraque, Síria, Nigéria, Sudão do Sul e República Centro-Africana se tornaram ainda menos pacíficos. A Líbia passou pela deterioração da paz mais grave neste ano, caindo da 149a posição em 162 países. A Ucrânia, onde ocorreram mais de 6.000 mortes em seus conflitos e o deslocamento de mais de 1 milhão de pessoas, registrou a segunda maior queda.

Quatro regiões -- Europa, América do Norte, África Subsaariana e América Central e Caribe -- experimentaram melhoras na paz desde o ano passado. Agitações sectárias e conflitos civis reduziram ainda mais os níveis de paz na região do MENA, o que resultou na pior pontuação já obtida, enquanto na América do Sul também ocorreu uma perda na pontuação, resultante, principalmente, dos aumentos de protestos populares e uma elevação na percepção da criminalidade.

Apesar das contínuas melhoras no nível de paz em muitos países, o número e a intensidade de conflitos armados cresceu dramaticamente, com um aumento de 267% no número de mortes provocadas por conflitos, desde 2010, criando níveis sem precedentes de refugiados. As últimas estimativas do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) sugerem que os refugiados e as PDIs respondem por aproximadamente 0,75% da atual população mundial, ou seja, são mais de 50 milhões de pessoas. Esse aumento de 131% em menos de uma década foi impulsionado não apenas por conflitos na região do MENA, mas também por conflitos em andamento na República Democrática do Congo e na Colômbia, com 23% e 13% das PDIs por país de origem em 2013.

Em 2014, 69 países registraram mortes provocadas por terrorismo, contra 60 no ano anterior, destacando o uso crescente de táticas de terrorismo. O crescimento das atividades terroristas se expandiu da região do MENA para a África Subsaariana, com os maiores aumentos registrados na Nigéria, Camarões e Níger. A Nigéria é agora o segundo país mais mortal em terrorismo, depois do Iraque, experimentando 4.392 mortes, um aumento de 140%. O país vizinho, Camarões, registrou 191 mortes em 2014, em comparação com nenhuma no ano anterior. Menos de 1% das fatalidades terroristas em 2014 ocorreram na região da OCDE. O massacre de mais de 2.000 civis pela organização Boko Haram em Baga, Nigéria, em janeiro de 2015, foi o incidente terrorista mais mortal desde 11/9 (em Nova York), um evento que foi ofuscado pelo assassinato de 11 jornalistas do jornal francês Charlie Hebdo no mês seguinte.

Steve Killelea disse: "2014 foi marcado por duas tendências contraditórias. De um lado, muitos países na OCDE atingiram níveis históricos de paz, enquanto do outro, nações dilaceradas por conflitos, especialmente as do Oriente Médio, se tornaram mais violentas. Essa é uma preocupação real, porque, conforme esses conflitos se tornam mais incontroláveis, eles espalham terrorismos para outros estados".

Um tema comum nos países com as maiores melhoras neste ano foi uma queda no nível de conflito externo organizado ou guerras com países vizinhos, com a África lucrando com essa tendência. Guiné-Bissau, Costa do Marfim, Egito e Benim lideraram as nações com maior melhora. A Europa também observou uma queda em mortes provocadas por conflitos externos organizados.

Destaques regionais

A Europa permaneceu a região geográfica mais pacífica do mundo, assegurando as três posições mais altas no GPI. Seu índice de paz vem melhorando a cada ano, nos últimos quatro anos. A Islândia se classifica em primeiro lugar. A Grécia registrou a maior melhora da região, subindo para o 22o lugar. O Reino Unido subiu oito posições depois que se retirou do Afeganistão.

A pontuação da América do Norte melhorou levemente. Isso se deve, largamente, ao fato de os EUA haverem subido duas posições, devido a uma melhor pontuação em número, duração e papel em conflitos externos, conforme o país reduz sua presença no Afeganistão e no Iraque.

A região da Ásia e do Pacífico se classificou em terceiro lugar, atrás da Europa e da América do Norte no GPI. Entretanto, a região apresenta mais diversidade em pontuações do que qualquer outra região, com três países entre os 10 melhores colocados e apenas um país, a Coreia do Norte, entre os 10 piores. A região do Mar da China Meridional permanece uma área potencial de conflitos, com países envolvidos em disputas, todos apresentando uma deterioração em pontuação.

A pontuação geral da região da América do Sul declinou e está, agora, abaixo da média global. Alguns países sul-americanos conseguiram melhorar. O Peru teve a maior melhora devido a reduções na quantidade de mortes causadas por conflitos internos organizados. O Chile melhorou com base em uma melhor pontuação relativa a transferência de armas. E a escalada do terrorismo político no Equador melhorou junto com a quantidade e a duração de conflitos internos. A pontuação declinou em todos os demais países da América do Sul, com deteriorações mais notáveis no Uruguai, Venezuela e Brasil.

A região da América Central e do Caribe melhorou levemente sua pontuação. No entanto, permanece menos pacífica do que a média global. A Costa Rica e a Jamaica tiveram as maiores melhoras. A Costa Rica melhorou sua pontuação no quesito homicídios, enquanto a melhora da Jamaica decorreu de uma redução de suas obrigações em aberto com as missões de paz da ONU. Os países cujas pontuações mais caíram foram El Salvador, devido ao crescimento da escalada do terrorismo político, e a Nicarágua, devido a aumentos do crime violento.

A pontuação da África Subsaariana melhorou em 2015, se posicionando à frente da Rússia e Eurásia, Ásia Meridional e MENA. A melhora geral mascara variações acentuadas em desempenho no país. Os países da região Subsaariana registram algumas das mudanças de pontuação mais acentuadas, tanto de forma positiva quanto negativa. Guiné-Bissau e Costa do Marfim registraram as maiores melhoras em pontuação mundialmente, enquanto a classificação de Djibouti caiu 42 posições, refletindo a crescente incidência de agitação social, crime e ressentimento do autoritarismo governamental.

A Rússia e a Eurásia registram uma pequena deterioração na pontuação geral, neste ano, e não houve mudanças na posição no ranking por região. Ocorreram variações significativas entre países. A Ucrânia registrou uma das maiores quedas, neste ano, por sua pontuação agregada em paz interna.

A posição da Ásia Meridional subiu um ponto nos rankings regionais, depois de estar na pior posição em 2014, mas apenas porque as condições pioraram, em um passo mais rápido, na região do MENA. No geral, as pontuações da maioria dos países na região pioraram, com ganhos registrados apenas no Butão, Nepal e Bangladesh.

A região do MENA continua arruinada por conflitos e registra a pior pontuação regional no GPI. A pontuação piorou em relação ao índice do ano passado, enquanto pequenas melhoras, notadamente no Egito e na Tunísia, foram ofuscadas por pontuações ruins, particularmente na Líbia, Iêmen, Iraque e Síria.

O GPI é a principal medida mundial de paz global, produzido pelo Instituto para Economia e Paz (IEP -- Institute for Economics and Peace). O índice mede conflitos domésticos e internacionais em andamento, proteção e segurança da sociedade e a militarização, em 162 países, levando em conta 23 indicadores.

O IEP é uma organização catalisadora de ideias (think tank) internacional e independente, dedicada a mudar o foco do mundo para a paz, como uma medida positiva, realizável e tangível do bem-estar e do progresso humano.

Um comentário:

  1. É prezado Motta. Que arma mortífera é o dinheiro nas mãos dos homens.

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