sexta-feira, 12 de junho de 2015

Uma questão de fé

Entendo pouco de religião - como de muitas outras coisas, aliás.

E não faço o mínimo esforço para isso.

Há aqueles que creem em deuses, há os que ficam em cima do muro, e aqueles que acham uma tremenda bobagem essa história de mundos espirituais, anjos e demônios, deuses e semideuses, paraíso e inferno, vida depois da morte e que tais.

Sou do time desses últimos, uns 10% da população brasileira - desde que me entendo como gente, fiquei com a pulga atrás da orelha com o poder da religião, que afeta tantas pessoas neste planeta.

Acho também que a religião fez mais mal que bem para a humanidade, por uma série de razões que não cabem nesta croniqueta.

De todo modo, respeito quem foi ungido pela fé, quem acredita em qualquer um dos deuses que povoam a mente humana.


Tenho amigos de mais de meio século que são diáconos da igreja católica em Jundiaí, cidade onde vivi até os 30 e poucos anos: Carlos Alberto Panizza e Pedro Fávaro Júnior, figuras humanas excepcionais.

Tenho também uma série de outros amigos que, como eu, acreditam que o homem é essa porcaria que a gente está cansado de ver, que a Terra é apenas um planetinha de quinta categoria lá na periferia do universo, e a nossa vida é aqui e agora.

Também vários desses são ótimos sujeitos.

Bem, todo esse papo furado foi para dizer que, para mim a religião não serve como régua para medir o caráter das pessoas, como querem, infelizmente, muitos por este país afora.

Ouso até afirmar que o mundo da religião está infestado de picaretas, estelionatários, bandidos, sem meias palavras - gente que se aproveita do miolo mole de grande parte da população brasileira para achacar, roubar e cometer uma série de crimes, enfim.

Está aí a tal bancada evangélica do Congresso Nacional que não me deixa mentir - dezenas de "pastores", "bispos", "missionários", uma alcateia faminta por poder e dinheiro, que expressa ideias que caberiam muito bem na Idade Média - se depender dessa turma o Brasil fará inveja à Arábia Saudita em termos de liberdades individuais.

Bem, malandros como esses Malafaias, Felicianos, Maltas e outros que seguem o mesmo padrão de "esperteza" existem às pencas. E não é de hoje, quando dispõem de programas de televisão e rádio à vontade para ludibriar o quanto quiserem os milhões de pobres de espírito que povoam esta nação.

Ainda hoje me lembro de um fato ocorrido em Jundiaí quando comecei no jornalismo, lá no início dos anos 70.

Certo dia apareceu na redação do Jornal de Jundiaí, o popular JJ, um sujeito boa pinta, todo de branco, pedindo que fosse publicada uma nota sobre a sua "igreja".

Bom de bico, conversou com um, bateu papo com outro, todo sorrisos - e foi embora.

Logo depois fiquei sabendo quem era o indivíduo: figurinha carimbada, bastante conhecido do pessoal, especialmente do mítico repórter Vladimir José Gropelo, que durante anos informou os jundiaienses, pelo JJ, sobre o que ocorria na área policial da cidade - outro craque no assunto, Mércio de Oliveira, fazia o mesmo trabalho pelo Jornal da Cidade.

Isso porque introduziu um golpe diferente para ludibriar os fieis de sua "igreja": mandava que eles escolhessem uma mexerica e que pagassem o dízimo de acordo com a quantidade de sementes de cada uma.

O problema todo consistia em que a mexerica que ele dava era daquelas com um monte de sementinhas.

Bem, alguém sacou que o tal "pastor" estava mesmo aplicando um golpe, denunciou o fato à polícia, que, como se dizia antigamente, tratou de "enquadrar o elemento". 

Ele ficou fora da cidade por um bom tempo e a sua visita à redação era justamente para informar que estava reabrindo o seu "templo".

Se não me falha a memória, o jornal não deu uma linha sobre isso.

O sujeito sumiu novamente da cidade e não ouvimos falar dele nunca mais.

Bons aqueles tempos em que os jornalistas respeitavam os seus leitores e os picaretas religiosos aplicavam golpes tão, digamos, inocentes.

2 comentários:

  1. A vantagem é que se o diabo resolver atacar o Brasil, o que não falta é especialista no assunto. Neste pormenor estamos bem preparados para a batalha. "Arreda capeta" é o exercicio diário dos pastores das milhares de igrejas espalhadas pelo Pais. É claro que não podemos desamparar nossos valorosos soldados e temos que fazer a justa vaquinha para suas despesas básicas.

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  2. Li agora. Obrigado pela referência lisonjeira, meu amigo. Religião e religiosidade não são régua para medir mesmo o caráter de ninguém. A régua é a atitude, a coerência, a congruência entre o que se reza e o que se faz, na defesa da ética e dos valores fundamentais como verdade, justiça, paz, distribuição equânime de renda. A p

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