Nestes tempos em que as relações humanas se transformam, ditadas pela conveniência das redes sociais, e a informação se propaga instantaneamente via internet, a escrita, como instrumento civilizatório, perde a sua importância, tal a quantidade de mensagens que cruzam o nosso cérebro, a todo instante.
Então, por que continuar nesta tarefa cansativa de escrever, se do que se escreve quase nada permanece na consciência do leitor?
Sei quase nada das razões dos outros.
Deve haver quem escreva na tentativa de convencer seus interlocutores sobre a primazia de seus pontos de vista ou sobre a excelência de seu pensamento.
Deve ainda haver quem escreva porque se julga capaz de, ao escolher as suas palavras, dar uma contribuição fundamental à arte literária.
Ou então, escavando mais profundamente as razões que levam o mundo a ter tantos escribas, deve haver quem cometa tal ato porque se sente como o náufrago que se acha prestes a ser engolfado pelas ondas mortais da desrazão.
Enfim, cada qual tem seus motivos.
Por mim, cada vez que me disponho a travar esse diálogo com o desconhecido, lembro de uma frase de José Saramago, escritor genial, ser humano amargo e profundamente ético:
"Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro."
Escrevo sempre com essa frase em mente: não tenho nenhuma pretensão de ser dono da verdade, embora muitas vezes, em minha imodéstia, acredite estar coberto de certezas imutáveis.
Mais: sei que, sejam quais forem meus argumentos, eles não convencerão ninguém das minhas razões - se é que as tenho -, porque o outro, a quem respeito como um igual, também estará cheio de verdades incontestáveis.
Dito isso, novamente recorro a esse notável português para que, com sua lógica impecável, ele traduza o sentimento que me ocorre toda vez que enfrento o teclado para que ele transforme sentimentos, emoções, ideias e expectativas em frases minimamente compreensíveis:
"No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade."
Parabéns Motta: "Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro."
ResponderExcluirComentário perfeito. Mas não deixe de escrever, por favor! :-)
ResponderExcluirQuem escreve dá norte para os mais jovens, que vêm pela vida tateando no escuro.
ResponderExcluirValeu Motta. Bom esse seu texto, mas não deixe de escrever...
ResponderExcluirEscrevemos porque não conseguimos deixá-lo de fazer. Seus textos são lições de humanismo, não nos deixem sem elas.
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