segunda-feira, 16 de março de 2015

Como quebrar essa corrente de ignorância?

Em plena democracia, o pedido patético pela volta da ditadura
(Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas)
A ditadura militar não apenas prendeu, torturou e matou seus opositores. 

Seus crimes foram muito além disso, mas dois deles deixaram sequelas que até hoje desgraçam o Brasil: o primeiro foi entregar à Rede Globo praticamente o monopólio das telecomunicações, e o segundo foi acabar com a educação - em todos os níveis.

Três décadas se passaram do fim da ditadura militar, mas seus efeitos aí estão, escancarados, à vista de qualquer um.


O show de horrores que foram as manifestações anti-Dilma, anti-PT, anti-Lula, "anticorrupção", a favor da volta dos ditadores, antipobres, etc etc, com cartazes que pareciam saído dos nove círculos do inferno de Dante, é a prova mais eloquente de que o maior problema do país é a completa falta de educação de grande parte de seu povo.

Este segundo governo Dilma, pelo menos no discurso, adotou a educação como sua prioridade, aproveitando o dinheiro que virá do pré-sal.

Educação, porém, não é apenas a formal, das escolas, das salas de aula.

Ela tem de começar em casa, pelos pais, que deveriam passar aos filhos o que aprenderam da geração anterior.

Mas como isso é possível, se essas gerações têm se formado em lares que cultivam valores nascidos em novelas da Globo, programas de auditório sem nenhuma substância, telejornais sem nenhum compromisso com o jornalismo?

Como esperar tal milagre de pessoas que passam a vida chafurdando no lixo cultural imposto por uma indústria cujo único objetivo é aumentar seus lucros, que não têm nenhum compromisso social? 

Como quebrar essa correia de preconceitos, ódio e ignorância profunda, que liga as gerações?

O que esperar de crianças que assistem a seus pais xingarem, com os olhos esbugalhados pelo ódio, as principais autoridades do país com os mais indecentes palavrões?

O que esperar de uma geração que aprende em casa a cultuar o individualismo como o mais importante valor da civilização?

Com escolas destroçadas, professores tratados como seres inferiores, lares bestificados pela televisão, qual será o futuro deste país?

Uma passada d'olhos pelos cartazes e faixas das "manifestações" deste domingo, 15 de março de 2015, dá bons indícios do que nos aguarda.

A esperança, dizem, é a última que morre.

Pobre dela, pobre de nós, pobre Brasil.

4 comentários:

  1. Concordo em tudo e isso me assusta. A cegueira alienante destrói e mata. A falta de educação não se justifica nunca. Mas percebamos que os argumentos para ir às ruas hoje eram pouco sustentáveis. Veio o discurso abstrato de 1964, o da corrupção. É preciso achar um culpado... Parece que os corruptos estão somente no governo e no congresso e que fora dali existe um povo incorruptível e partidos políticos honestíssimos. Nesse aspecto, serei talvez preconceituoso. O povo mais simples não foi à rua porque é alienado. Não foi à rua porque percebe que se inicia uma batalha em que poucos têm um potencial de verdade nos seus argumentos.Enquanto não fizermos essa autocrítica, haverá dois lados...

    ResponderExcluir
  2. Motta,
    Conheci certa vez um cara que via Xuxa quando criança e, na fase adulta, já há uns dez anos, via Big Brother e achava fantástico.
    Esse tipo de gente certamente engrossou as manifestações de hoje.
    Lamentável.

    ResponderExcluir
  3. Ao final dos governos tucanos no Brasil, achei que estáva-mos definitivamente entregues as baratas. Mas Deus escreve certo por linhas tortas. Nossos avanços foram notáveis. Saimos do atoleiro e continuamos avançando. Lentamente como deve ser.

    ResponderExcluir
  4. Não sou contra a ideia de protesto em si, mas não acho que essas pessoas estão protestando pela coisa certa. O melhor não seria protestar a favor do bem comum? O povo acha que retirar Dilma do poder vai garantir-lhes instantaneamente a saúde, a educação, a segurança pública? Como pode um grupo protestar contra a corrupção se eles mesmos cometem todos os dias? Eu tenho um exemplo. Aqui, na minha cidade, Fortaleza, existe uma praça chamada Praça Portugal. No domingo de 15 de março, um grupo imenso se reuniu naquela praça para protestar. Não bastassem os cartazes provocativos e ignorantes, depois do protesto, grande parte desse grupo rumou a uma padaria próxima à praça. Invadiram, saquearam, comeram e saíram sem deixar um tostão. Entre os cartazes presentes na manifestação, havia dizeres como "Privatiza Tudo!". Diante disso, me pergunto: como pode um povo que desrespeita empresas privadas, tomando o que não pertence a eles, protestar a favor da privatização?

    ResponderExcluir