sexta-feira, 21 de março de 2014

O Brasil oficial sucumbe à esquizofrenia

Mestre Ariano Suassuna costuma dizer, parafraseando outro mestre, Machado de Assis, que existem dois Brasis, o oficial e o real.
Esses dois Brasis não se entendem. 
Um é o Brasil dos salões, dos rapapés, dos cerimoniais, do ar-condicionado, das cotações da Bolsa, das análises econômicas, do déficit primário, do PIB potencial, da academia, dos fardões envelhecidos - e das mentiras.
Outro, o Brasil real, é o da feira-livre, do cheiro apodrecido dos bueiros, dos rostos gretados pelo sol, do corre-corre em busca da grana de todo dia, do sufoco no ônibus e no metrô, da fila para comprar ingresso para o Fla-Flu, da cervejinha gelada com os amigos no boteco, da vida suada, difícil - e da verdade.
Esses dois Brasis são como água e óleo, não se misturam.
Estão afastados um do outro por milhões de anos-luz.
Mesmo assim, desde que o Brasil é Brasil, tenta-se mostrar, por parte dessa elite degenerada que domina o Brasil oficial, que há uma absoluta concordância entre esses dois entes, tenta-se apresentá-los, eles que são tão diferentes, como um só. 
Dessa forma, o Brasil oficial seria como a pele do Brasil real, o disfarce perfeito para esconder as suas entranhas.

Mas se essa dicotomia vem de longe, nunca ela foi tão explicitada como nestes tempos.
Quem se guia pelo que lê, vê ou ouve da imprensa-empresa percorre os caminhos de um Brasil que não existe senão no imaginário de uma minúscula e ridícula casta. 
Acaba habitando essa arquitetura cinza de um concreto que rejeita cores e imperfeições e afronta a natureza com a empáfia dos que se julgam superiores e predestinados a comandar os desígnios de milhões.
Na linguagem do Brasil real, estão no mundo da Lua.
Na tentativa desesperada de manter de pé um ideário sustentado pela exploração do semelhante, pela competição desmedida em busca do ouro, pelo desrespeito às mais comezinhas regras civilizatórias e pelo violento estupro dos direitos mais básicos dos seres humanos, não são raros os representantes desse Brasil oficial que entram, a cada dia que passa, em surtos psicóticos amedrontadores.
Deixam de ser loucos mansos e se tornam furiosos .
Estariam mais bem colocados, seriam bem mais assimilados, em qualquer um dos inúmeros manicômios do Brasil real, junto com santos barbudos, profetas desdentados, milionários piolhentos, catatônicos e esquizofrênicos.
Como não suportam o Brasil real, sentem-se no seu ambiente nesse incrível Brasil oficial que construíram com a sua imaginação delirante.
E vão em frente, cantando hinos sectários e gritando palavras de ordem estapafúrdias.

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