sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Fogo na floresta, animais em fuga

Os cães não paravam de latir e a barulheira, amplificada pelo silêncio da madrugada, tinha como fundo um crepitar de madeira ou de fogos de artifício bem ao longe.
Semiadormecido, só depois de alguns minutos, com o alarido dos animais mais estridente, percebi que alguma coisa estranha deveria estar acontecendo no mundo exterior.
Abri a janela do quarto e a uns 200 metros à esquerda vi, do alto do nono andar em que moro, enormes labaredas consumindo a construção que abrigava um complexo de restaurantes, chamado Vila do Jardineiro, que conhecia desde que me mudei para o bairro do Caxingui, Zona Oeste de São Paulo, há uns 12 anos.

Acima do fogaréu, uma fantástica bola de fumaça dava mais dramaticidade ao quadro.
Olhei o relógio: 1h30 da madrugada.
Havia o fogo, que devia ter começado uns 10, 15 minutos antes - e mais nada.
Nenhum barulho de sirenes, nenhuma viatura de bombeiros.
Estranhei, já que existe um quartel a uns 5 quilômetros do incêndio, que, naquela hora, com as ruas vazias, poderiam ser percorridos num instante.
Alguns minutos depois ouvi a primeira sirene. 
Ainda não era o caminhão com os bombeiros que poderiam impedir que o fogo se alastrasse.
O primeiro deles só chegou depois de alguns veículos menores, dos bombeiros e da Polícia Militar.
Molemente. Calmamente.
Sem pressa, os bombeiros andaram de um lado a outro.
Mais alguns minutos e um segundo caminhão apareceu.
Os moradores das casas vizinhas começaram a sair às ruas.
Da minha janela, a muito custo via um fiozinho de água se acabar no meio das chamas fortíssimas.
Explico: os restaurantes da Vila do Jardineiro eram cobertos por sapé.
Os dois caminhões ficaram no local cerca de meia hora.
Quando o fogo já era bem menor, foram embora. 
As chamas já tinham feito o que era esperado que fizessem: não restava mais nada daquela construção marcante na esquina da Avenida Eliseu de Almeida com a Rua Edmundo Scannapieco.
Uma sirene ao longe indicou que mais um caminhão dos bombeiros chegava.
O fogo praticamente já havia acabado.
Durou cerca de uma hora.
Luzes vermelhas piscavam entre as árvores das ruas. 
Um ventinho gelado entrava no quarto.
Fechei a janela, acendi a luz do abajur, fui ler alguma coisa para ver se o sono voltava.
Mas naquele momento só conseguia pensar em como é frágil esta metrópole e em como são ineficientes os seus serviços.
E cheguei à triste conclusão de que nós, pobres cidadãos, estamos mesmo entregues à nossa sorte - ou ao nosso azar, como queiram.



Um comentário:

  1. Carlos,passo em frente ao Jardineiro praticamente todos os dia em direção ao trabalho...Voce acredita que nao sabia desse incendio?Uma pena...espero que volte a funcionar.A Pizzaria é muito boa.Quanto a fragilidade da metropole e a ineficiencia dos serviços....sem comentários.

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