Claro que o uso do verbo espionar pelo redator da Folha não é do de "espiar, procurando não ser visto", um dos sentidos definidos pelo Aulete.
Na sua tradição de agir como um partido político que faz oposição sistemática ao governo trabalhista, é óbvio que o espionar da Folha quer remeter o leitor a uma atividade condenável, como "observar, investigar secretamente como espião", como também define o Aulete.
"Segundo o relatório, que foi elaborado pelo Departamento de Operações de Inteligência da Abin, diplomatas russos envolvidos com negociações de equipamentos militares foram fotografados e seguidos em suas viagens.
O mesmo foi feito com funcionários da embaixada do Irã, vigiados para que a Abin identificasse seus contatos no Brasil. Os agentes seguiram diplomatas iraquianos a pé e de carro para fotografá-los e registrar suas atividades na embaixada e em suas residências, conforme o relatório."
Mas é só isso?
Onde foi parar a espionagem do título?
A própria Folha se envergonha do que fez e logo depois, no texto da matéria, tenta pôr as coisas em seus devidos lugares, mesmo que ainda insista no absurdo de dizer que acompanhar os passos de alguns estrangeiros no Brasil seja o mesmo que fizeram, por exemplo, os americanos que grampearam, ilegalmente, comunicações de não se sabe quantos cidadãos de não se sabe quantos países - presidentes incluídos:
"As operações descritas no relatório da Abin têm características modestas, e nem de longe podem ser comparadas com a sofisticação da estrutura montada pela Agência de Segurança Nacional americana, a NSA, para monitorar comunicações na internet."
Apesar desse quase desmentido de toda a matéria, o texto se finda com uma lição de moral no governo brasileiro, um microeditorial, um puxão de orelhas:
"Ainda assim, o documento mostra que, apesar do que a retórica da presidente poderia sugerir, o governo brasileiro também não hesita em mobilizar seu braço de espionagem contra outros países quando identifica ameaças aos interesses brasileiros."
E viva a liberdade de imprensa!
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