domingo, 20 de outubro de 2013
Vinícius, muito mais que um poetinha
As homenagens pelo centenário de nascimento de Vinícius de Moraes foram muitas e merecidas.
Mas insistiram no Vinícius poeta do amor, cantor da beleza feminina, maravilhoso letrista da MPB.
No Vinícius poetinha.
Ele, porém, foi bem mais que isso.
Está entre os maiores poetas brasileiros.
Um "lírico", na opinião de outro grande, João Cabral de Mello Neto.
Um humanista, na minha modestíssima opinião.
Um homem inconformado com um mundo desvairado, à beira da loucura:
"Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da roda
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada."
(Rosa de Hiroxima)
Um homem preocupado com o destino de seus irmãos:
"Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia as casas
que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão."
(Início de O Operário em Construção)
Um homem que cresceu na amizade e no respeito aos seus pares:
"Feito só, sua máscara paterna
Sua máscara tôsca de acre-doce
Feição, sua máscara austerizou-se
Numa preclara decisão eterna.
Feito só, feito pó, desencantou-se
Nele o íntimo arcanjo, a chama interna
Da paixão em que sempre se queimou
Seu duro corpo que ora longe inverna.
Feito pó, feito polem, feito fibra
Feito pedra, feito o que é morto e vibra
Sua máscara enxuta de homem forte.
Isto revela em seu silêncio á escuta:
Numa severa afirmação da luta
Uma impassível negação da morte."
(Máscara mortuária de Graciliano Ramos)
Um homem feito de sentimento e razão:
"A morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas.
Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva.
De repente não tinha pai."
(Início de Elegia na Morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, Poeta e Cidadão)
Um homem cujos versos vão além da poesia, são puro encanto, pura maravilha.
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