sábado, 29 de junho de 2013

"Carta aberta" da AMB: zero em redação


O "esprit de corps" e o corporativismo geralmente trazem mais prejuízos que benefícios para as categorias profissionais que deles se utilizam. Demandas muitas vezes justas acabam sendo desmoralizadas quando há a percepção de que essas categorias que se sentem ameaçadas simplesmente rejeitam uma discussão em bases racionais. 
Os médicos brasileiros, representados por suas associações de classe, infelizmente, começam a trilhar esse caminho. 
Não aceitam, sob justificativas simplórias, a vinda de colegas de outros países para trabalhar em regiões remotas do Brasil, onde o atendimento sanitário é extremamente precário.
Com o título "A Saúde Pública e a Vergonha Nacional", as principais entidades médicas do país lançaram uma "carta aberta" à população brasileira, na qual pretendem expor à opinião pública os motivos pelos quais rejeitam a "importação" de médicos.

Muitas pessoas de credenciais variadas, médicos inclusive, aceitaram debater o assunto e refutaram as alegações das entidades de classe contrárias à medida. Isso é que deve ser feito num assunto tão sério e importante para o país como esse.
Mas a considerar a "carta aberta" divulgada ao público, as entidades médicas estão um tanto perdidas nessa cruzada que resolveram empreender.
O documento parece ter sido escrito por um estagiário que mal consegue formar frases compreensíveis, lógica e gramaticalmente.
Não entendo como associações tão poderosas, tão ricas, possam ter subscrito um documento tão ruim, tão malfeito.
Se, como disse certa vez o conde de Buffon, célebre naturalista e matemático francês do século 18, "o estilo é o próprio homem", as lideranças médicas brasileiras estão distantes da grandeza da profissão que pretendem representar e de tantos profissionais que se guiam não apenas pela lógica do mercado ao exercer a sua nobre missão.
A íntegra da carta das associações vai a seguir. 
Os cometários em parêntesis são meus:


Carta aberta aos médicos e à população brasileira 

A SAÚDE PÚBLICA E A VERGONHA NACIONAL 

Há alguns anos, a presidente Dilma Rousseff foi vítima de grave problema de saúde. O tratamento aconteceu ("aconteceu?" Algum tratamento acontece, não é mais feito?) em centros de excelência do país e sob a supervisão de homens e mulheres capacitados em escolas médicas brasileiras (teria problema se eles tivessem se capacitado no exterior?). O povo quer acesso ao mesmo (esse "mesmo" é simplesmente horroroso) e não quer ser tratado como cidadão de segunda categoria, tratado (tem muito "tratado" numa só frase) por médicos com formação duvidosa e em instalações precárias (a formação duvidosa, creio, não é exclusividade dos médicos estrangeiros; já fui atendido por alguns formados no Brasil que, sinceramente...). Por isso, a Associação Médica Brasileira (AMB), a Associação Nacional de Médicos Residentes (ANMR), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) manifestam publicamente seu repúdio e extrema preocupação com o anúncio de “trazer de imediato milhares de médicos do exterior”, feito nesta sexta-feira (21), durante pronunciamento em cadeia de rádio e TV. 
O caminho trilhado é de alto risco e simboliza uma vergonha nacional (frase forte, demagógica e sem sentido: por que "alto risco", por que é "vergonha" querer levar atendimento médico à população mais carente?). Ele expõe a população, sobretudo a parcela mais vulnerável e carente, à ação de pessoas cujos conhecimentos e competências não foram devidamente comprovados (mentira: são profissionais formados em outros países, que farão exames para validar seus títulos no Brasil). Além disso, tem valor inócuo, paliativo, populista e esconde os reais problemas que afetam o Sistema Único de Saúde (Não sei se a medida tem o propósito de esconder problemas do SUS; parece que seu objetivo é melhorar a assistência de populações que não contam com médicos suficientes). Será que os “médicos importados” - sem qualquer critério de avaliação ou com diplomas validados com regras duvidosas (já foi dito que todos os médicos estrangeiros serão avaliados no Brasil) - compensarão a falta de leitos, de medicamentos, as ambulâncias paradas por falta de combustível, as infiltrações nas paredes e as goteiras nos hospitais (provavelmente não, mas sem dúvida é melhor ter um médico à disposição do que nenhum)? Onde estão as medidas para dotar os serviços de infraestrutura e de recursos humanos valorizados? Qual o destino dos R$ 17 bilhões do orçamento do Governo Federal para a saúde que não foram aplicados como deveriam, em 2012? Porque (por que, separado, quando se trata de uma pergunta) vetaram artigos da Emenda Constitucional 29, que se tivesse (sido) colocada em prática teria permitido uma revolução na saúde? 
Os protestos não pedem “médicos estrangeiros”, mas um SUS público (mas já não é?), integral (idem), gratuito (ibidem), de qualidade e acessível a todos (se não fosse acessível a todos, não seria o SUS, seria um plano de saúde). É preciso reconhecer que é a falta de investimentos e a gestão incompetente desse sistema que afastam os médicos brasileiros do interior e da rede pública (parece que não é bem isso o que ocorre...), agravando o caos na assistência. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), os Governos de países com economias mais frágeis investem mais que o Brasil no setor. Na Argentina, o percentual de aplicação (do quê?) fica em 66% (do quê?). No Brasil, esbarra em 47% (do quê?). O apelo desesperado das ruas é por mais investimentos do Estado em saúde (trazer os médicos estrangeiros não é investimento?). É assim que o Brasil terá a saúde e os “hospitais padrão Fifa”, exigidos pela população, e não com a “importação de médicos” (não sou especialista, mas de que adiantam tais hospitais se não há médicos nem outros profissionais que os façam funcionar?). 
A AMB, a ANMR, o CFM e a Fenam – assim como outras entidades e instituições, os 400 mil médicos brasileiros e a população conscientes da fragilidade da proposta de “importação” – não admitirão que se coloque em risco o futuro de um modelo enraizado na nossa Constituição e a vida de nossos cidadãos (soa como uma defesa do SUS. É isso mesmo?). Para tanto, tomarão tomas (sic) as medidas possíveis, inclusive jurídicas (se são todas, não é preciso dizer que as jurídicas fazem parte delas), para assegurar o Estado Democrático de Direito (quer dizer que ele só existe se os médicos estrangeiros não vierem?) no país, com base na dignidade humana (bem, até o momento não existe nenhum Estado governado por outros seres que não os humanos - pelo menos neste planeta).

Brasília, 22 de junho de 2013. 

ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA (AMB) - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE MÉDICOS RESIDENTES (ANMR) - CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM) - FEDERAÇÃO NACIONAL DOS MÉDICOS (FENAM)

Um comentário:

  1. Que dizer dos milhares de médicos que ocupam vagas nos hospitais, UPAs, SUS ... e não cumprem seus plantões corretamente, mas ganham por isso - e a classe médica, de forma torpe e corporativa se opõe ao ponto biométrico? Que dizer dos que desviam materiais caros? E dos que desviam pacientes para suas clínicas particulares? E dos que cometem erros médicos e os encobrem, ou conseguem que alguém o faça? A culpa é mesmo sempre do governo? Ou têm medo de se expor e de que os 'médicos importados' façam um trabalho melhor que o seu?

    ResponderExcluir