segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

As mentiras da France Presse


Fim de ano, quase tudo se perdoa. Acabo de ler no portal UOL a seguinte notícia: "Dilma: dois anos de popularidade em alta, mas sob ameaça econômica."
É um primor de desinformação, um exemplo acabado da incapacidade da chamada "grande imprensa" de compreender estes novos tempos da internet, no qual a mentira dura alguns poucos minutos, se tanto.
Faço questão de transcrever a nota, de autoria da AFP, a France Presse, que se apresenta, em seu site, como "um dos principais fornecedores de informação mundial através de sua extensa rede de jornalistas e profissionais que trabalham diariamente seguindo os valores fundamentais da agência: a verdade, a imparcialidade e o pluralismo", para em seguida esclarecer que "estes valores são a garantia de uma informação rigorosa, verificada, e livre de qualquer influência política ou comercial".
Bem, aí vai o governo Dilma Rousseff na visão "imparcial" dos franceses da AFP (os destaques em parênteses são meus):
A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, completará nesta terça-feira a metade de seu mandato com uma popularidade recorde, mas segue ao mesmo tempo ameaçada pela desaceleração da economia (a desaceleração faz parte do passado, todos os indicadores econômicos apontam para uma recuperação sólida já a partir do quarto trimestre de 2012), que também esfriou a comemoração dos 10 anos da chegada da esquerda ao poder (é, o Brasil de hoje é igualzinho ao dos tempos pré-Lula. A AFP não explica como é que mais de 80% da população aprova o governo Dilma e, ao mesmo tempo, tem saudades dos tucanos...). 
 A sucessora e herdeira política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) alcançou nos últimos dois anos o parecia improvável: ultrapassar em popularidade seu mentor e transformar o seu estilo sóbrio de governo na principal alternativa no Partido dos Trabalhadores (PT) para a eleição de 2014 (outra bobagem: se Lula for o candidato, leva no 1º turno de lavada). 
"Dilma atinge a metade de seu mandato (quatro anos), com uma avaliação melhor do que qualquer um dos seus antecessores no mesmo período", disse Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto de pesquisa de opinião do Vox Populi, em uma coluna no Correio Brasiliense. 
Uma pesquisa do Ibope divulgada em dezembro colocou a popularidade de Dilma em 78% e o apoio a seu governo em 62%. O instituto Datafolha também divulgou um estudo que a coloca na frente nas intenções de voto para a próxima eleição presidencial. Apenas o ex-presidente Lula poderia rivalizar com ela, embora ele própria já tenha dito que disputaria a eleição apenas se Dilma não o fizer, algo sobre o qual a presidente ainda não se pronunciou. 
Antes disso, porém, Dilma - a primeira mulher a chegar ao poder no Brasil - terá que reverter dois anos de desaceleração econômica. O crescimento de 1% previsto para 2012 (o mais baixo entre os emergentes) e de 2,7% registrado em 2011 foram decepcionantes para a gestão Dilma, após um crescimento de 7,5% em 2010 (ops, a AFP esqueceu um pequeno detalhe: o mundo passa pela mais séria crise econômica desde o crash de 29, crise que exterminou com a bonança dos países ricos, especialmente os europeus, a França incluída nesse saco. A fórmula brasileira de enfrentar a crise tem sido objeto de estudo em vários países, elogiada por economistas de primeira linha e criticada apenas pelos financistas e neoliberais, esses mesmos que foram responsáveis por toda essa bagunça)
"Foram dois anos de fracasso econômico", escreveu o jornal O Estado de São Paulo, neste domingo, acrescentando que mesmo o consumo interno forte e o desemprego de apenas 4,9% em novembro não são suficientes para sustentar a recuperação (Ah, apelaram para o Estadão. Assim é covardia...)
Ao mesmo tempo, nesta década do primeiro governo de esquerda "as áreas de assistência social e de transferência de renda evoluíram bastante, com excelentes resultados nos indicadores de pobreza e na composição da classe média", disse o economista Raul Velloso, diretor da ARD Consultores Associados (vixi, até o Raul Velloso está elogiando os governos do PT, quem diria...). 
Contudo, a infraestrutura de transporte do anfitrião da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 segue deteriorada (oh god, qualquer criança sabe que depois dos milicos, só o governo do PT investiu em infraestrutura. Os tucanos passaram o tempo mais preocupados com a privataria...), e a política de aliança com o setor privado para desenvolver trabalhos é "equivocada", pois assegura muitos lucros às empresas " (e desde quando as empresas não gostam de lucrar?), disse o especialista para o jornal O Globo.
O governo de Dilma Rousseff, que em dois anos perdeu sete ministros por corrupção (mentira: vários deles foram acusados injustamente e a própria Justiça reconheceu sua inocência. Nenhum deles foi condenado por corrupção) - sem prejudicar a popularidade da presidente - atribui os infortúnios econômicos à crise internacional. O governo, no entanto, aposta forte na recuperação após uma série de incentivos para investimento e consumo e através do compromisso de reduzir a asfixiante carga tributária.
"Eu acho que o Brasil, em 2013, vai crescer mais", disse o presidente na sexta-feira, com os olhos voltados para a maior conquista do PT no governo: a luta contra a pobreza e a ascensão de 40 milhões de pessoas à classe média desde 2003. "Vamos continuar a superação da pobreza extrema, que é o compromisso do meu governo até 2014", disse.
Dilma reafirmou neste domingo as conquistas sociais do PT, sem mencionar o escândalo de corrupção que terminou este ano, com a condenação de três líderes históricos do partido por suborno a parlamentares no primeiro governo Lula (a AFP se refere ao julgamento da AP 470, que muitos juristas consideraram meramente político, de exceção, completamente atípico e fora das normas do STF). O julgamento retumbante não afetou a popularidade de Dilma e ou de Lula - excluído do julgamento -, mas tirou do PT a bandeira contra a corrupção empunhada em seus tempos de oposição (bem, essa é apenas uma opinião da AFP. Os números dizem o contrário: nunca antes na história do país se combateu tanto a corrupção quanto nos governos do PT).

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