terça-feira, 23 de outubro de 2012

Chove em São Paulo


Choveu de madrugada em São Paulo. Agora de manhã cai uma leve garoa. O rádio informa que mais de 30 semáforos, muitos deles em cruzamentos bem  movimentados, estão apagados ou no amarelo piscante, e os engarrafamentos passam dos 100 quilômetros na medição oficial da CET, que não é confiável, já que leva em conta apenas uma pequena parte das vias públicas paulistanas.
É sempre assim na metrópole. Basta uma chuvinha qualquer para ela mostrar a sua fragilidade, a precariedade de sua infraestrutura e o descaso das autoridades em pelo menos tentar aliviar alguns dos seus problemas.
Em pouco tempo as chuvas fracas darão lugar às tempestades de verão e aí sim o paulistano vai sofrer de verdade, como acontece há décadas, todos os anos.
E, como sempre, o prefeito de ocasião, ao visitar demagogicamente algum lugar devastado por uma enchente, ditará os atentos repórteres números sobre o quanto gastou para fazer obras que vão se mostrar absolutamente ineficazes, pois são uma gotinha de nada num oceano incomensurável de mazelas.
Depois, o alcaide, com ar compungido, lavará as mãos e dirá, em tom solene, que contra as forças da natureza nenhuma obra humana é capaz de se interpor.
Infelizmente, para desgraça dos milhões de indivíduos que habitam a metrópole, isso se repete ano após ano.
Mas não deveria ser assim.
São Paulo é rica e poderosa, uma das cidades mais prósperas de todo o mundo.
Se chegou a essa situação em que se encontra hoje, de quase paralisia, com todos os serviços públicos à beira do colapso, não foi devido à ação de um deus vingativo nem da inexorável fúria dos elementos.
Está desse jeito porque tem sido governada, com raras exceções, por gente desqualificada, incompetente, que não tem a menor noção dos desafios que são impostos a um prefeito de verdade de uma metrópole como essa.
São Paulo se degradou a esse ponto porque homens de pequena estatura moral e ética fizeram dela balcão para seus negócios privados, usaram e abusaram dos seus imensos recursos para fins particulares, desprezaram as necessidades da população mais desprotegida, olharam apenas para os interesses daqueles de sua classe.
A metrópole sucumbiu à barbárie porque foi governada por bárbaros, gente que ainda não absorveu ou compreendeu o que consiste o processo civilizatório.
A chuva sempre vai existir, forte ou fraca, como uma garoa ou uma tempestade.
Cabe ao homem tirar o melhor proveito dessa água que cai, torná-la uma benção ou uma desgraça.

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