sexta-feira, 14 de setembro de 2012
O jeito John Wayne de fazer Justiça
Fica difícil estabelecer a verdade sobre qualquer fato quando se tem apenas um lado da história. E isso é o que ocorre todas as vezes em que a Polícia Militar paulista mata alguém. Em 110% das vezes a explicação é que o morto tentou reagir à abordagem policial - e se deu mal. Como ele está morto e não pode dar a sua versão, os PMs se livram da confusão como heróis.
Dessa forma, é quase impossível saber o que houve realmente em Várzea Paulista, cidade onde nove (!) pessoas foram mortas pelos policiais da famigerada Rota.
A versão oficial é que eles eram perigosos facínoras do Primeiro Comando da Capital, o PCC. A ação dos policiais foi elogiada pelos seus superiores e até mesmo pelo governador Geraldo Alckmin, que sobre ela deu uma declaração que revela, de forma crua, o que pensam as nossas autoridades sobre o tema da segurança pública:
- Quem não reagiu está vivo.
Apesar de todos os elogios, o feito dos PMs não passou despercebido pelo ouvidor da Polícia de São Paulo, Luiz Gonzaga Dantas: "Realmente, esse fato é preocupante, visto que várias pessoas foram mortas onde havia agentes do Estado", afirmou.
Ele disse ainda que a Ouvidoria fará uma investigação do ocorrido e que vai pedir providências à Corregedoria da PM. O Ministério Público também acompanhará as investigações.
Seja qual for o desfecho do caso, o fato é que essa ação da PM foi só mais uma batalha da guerra que está sendo travada no Estado entre policiais e o PCC, uma guerra até agora sem vencedores e na qual os maiores prejudicados são as pessoas comuns.
E não será dessa forma, fazendo o papel de juiz e carrasco, que a polícia vai derrotar o crime. Ao agir assim, ela apenas reforça o desejo revanchista dos criminosos, alimentando uma espiral de violência interminável.
Segurança pública não é só repressão. Exige um esforço extra de inteligência e investigação, um planejamento a longo prazo e o envolvimento de toda a sociedade.
O justiçamento de marginais, como tudo indica que foi essa ação em Várzea Paulista e tantas outras semelhantes, transforma São Paulo num Estado sem lei nem ordem, uma terra como as dos saudosos filmes de faroeste que povoaram a nossa juventude.
Talvez Alckmin e seus companheiros sejam admiradores do gênero e achem mesmo que o jeito John Wayne de resolver os problemas seja o mais adequado.
Eles se esquecem, porém, que a vida não é um filme e nela os heróis são muito mais raros e quase nunca infalíveis.
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Eu tenho receio da polícia paulistana. Simples assim.
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