quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O trabalho de cada um

O policiais federais querem ganhar mais.
E quem não quer?
(Foto: Antonio Cruz/aBr)
O governo deve apresentar uma proposta salarial para os servidores federais, que estão em greve, com reajustes entre 4,5% e 5,5%, o que não é grande coisa, e a promessa de uma política salarial até 2015. O governo não tem, ao contrário do que dizem lideranças do funcionalismo, interesse nenhum em não negociar, muito menos em achatar os salários dos servidores, que, no governo Lula, receberam aumentos consistentes.
Os funcionários públicos são uma categoria de extrema importância para o país. Cabe a eles atender a população em áreas essenciais. Não dá para imaginar o que seria do dia a dia sem o seu  trabalho. Cabe ao Estado cuidar bem deles, porque, no fim, quem sai ganhando com isso somos todos nós, cidadãos comuns.
Uma greve como esta, que se radicaliza cada vez mais, acaba causando, porém, prejuízos aos próprios servidores, que se indispõem com a população e veem a sua imagem se corroer. E isso não tem nada a ver com a cobertura da imprensa e sim com o fato de que as pessoas querem ser bem atendidas nos guichês das agências do INSS, querem poder viajar sem ter de esperar horas e horas nos aeroportos, querem  estudar, querem, enfim, ver que os seus direitos de cidadãos estão sendo respeitados.
Recebi vários comentários, possivelmente de funcionários públicos, criticando minha opinião de que, como qualquer outra categoria profissional, os servidores públicos não têm o direito de receber salário sem trabalhar. Nenhuma justificativa me convenceu a mudar o que penso. O fato de eles terem um regime próprio de trabalho deveria fortalecer neles a crença de que têm uma missão especial: sem seus serviços, toda a sociedade e, principalmente, a porção mais frágil, fica prejudicada.
Longe de dizer que o funcionalismo público federal é uma categoria privilegiada, mas não há como esconder que seus salários estão num nível pelo menos aceitável, pelo menos se comparados aos de outras categorias do setor privado.
Vamos pegar os jornalistas do Estado de São Paulo, por exemplo, que estão, desde junho, penando numa campanha salarial que parece infindável: a proposta inicial dos patrões era de reajuste de 4%, portanto abaixo da inflação, para salários até R$ 10.580. Acima disso, haveria um valor fixo de R$ 423. Na segunda rodada, eles elevaram em 0,86 ponto percentual a proposta anterior, atingindo 4,86%, o equivalente ao INPC, apenas para o piso salarial, e 4% para salários de até R$ 10.580. Por fim, concordaram em dar o INPC para quem ganha até R$ 10.580 e fixo de R$ 514,19 para salários acima disso.
Para quem não sabe, o piso salarial dos jornalistas da capital é de R$ 3.321,60 e para os do interior, de R$ 2.736,00. Na teoria, são 7 horas de trabalho diário. Na prática, a jornada não tem hora para começar nem para terminar.
Além disso, como o STF acabou, na prática, com a profissão de jornalista, os patrões podem contratar quem quiser para trabalhar, até mesmo analfabetos, e pagar o que bem entender para eles.
E há quem ache a profissão glamourosa...

Um comentário:

  1. Estamos chegando lá, não é Motta?
    Mas eu não entendo seu ponto de vista quando diz que por eu ter um regime diferenciado (que não é privilegiado, pois há mais responsabilidades que vantagens) eu deveria me sentir orgulhoso por ser especial, mas não posso receber por isso...
    Fazer um paralelo com com o setor privado não é o melhor caminho. As atribuições e responsabilidades são INFINITAMENTE diferentes.
    Por exemplo: um funcionário de uma empresa privada que receba 10% de um fornecedor por ter fechado um contrato com ele incorre em uma atitude antiética, mas nem de longe isso configura um crime. Isso é prática corriqueira, embora condenável, no setor privado.
    Agora imagine a mesma situação no setor público... Temos uma sessão inteira no código penal ("Dos crimes do funcionário público") e não pode haver responsabilidade sem contrapartida.
    Nenhuma categoria do setor privado tem a prerrogativa de fuçar nos dados sigilosos de pessoas e empresas. Várias categorias do setor público tem essa prerrogativa.
    Você cita a negociação da sua categoria, de jornalistas, como um exemplo, mas não cita que são reféns de três ou quatro órgãos de imprensa que se cartelizam para colocá-los nessa situação. Inclusive a queda da exigência do diploma para jornalistas, ferrenhamente defendida pelos seus patrões, que só fez enfraquecer a profissão, foi, espantosamente, defendida também por vários dos seus colegas!!!!
    Então, mais uma vez, digo que não queremos que a situação se torne caótica, para necessitarmos novamente de aumentos de 60, 80 ou 100% para restaurar novamente nossa dignidade.
    Queremos uma política salarial responsável que nos mantenha no patamar no qual o Governo Lula nos colocou, corrigindo uma distorção histórica causada pelo governo anterior, FHC.
    Sermos citados como "sabotadores" do crescimento econômico, ou gananciosos, pois já ganhamos muito, é injusto e intelectualmente desonesto. De parte a parte isso está acontecendo.
    Veja, por exemplo, quanto ganham os funcionários administrativos das universidades federais. Não mais que R$ 2.500,00! O índice de reajuste deles DEVE, obviamente, ser maior do que para um policial federal.
    A discussão descambou para um terreno onde o governo nadará de braçada, dando um reajuste abaixo da inflação, pintando os descontentes como "sabotadores".
    Finalmente, tratar um movimento tão grande e com tanta diversidade em termos genéricos e baseados só nas reivindicações das carreiras mais bem pagas, também não é contribuir para engrandecer o debate e sim para tornar mais estereotipada uma classe de trabalhadores que, no final das contas, move este país.

    ResponderExcluir