terça-feira, 5 de junho de 2012

A vida com ar-condicionado


Há alguma coisa errada no reino dos economistas. Enquanto a grande maioria deles se debruça em números oficiais para fazer previsões catastrofistas sobre o crescimento do país, a empresa Serasa Experian, em seu indicador de atividade do comércio revela que em maio as vendas do setor cresceram 4,1% em relação a abril e 9,8% na comparação com maio do ano passado, a maior variação mensal desde agosto de 2007.
A nota da Serasa explica o que houve: "A redução do IPI no segmento de veículos e a volta dos 'feirões' impulsionaram o movimento dos consumidores no segmento de veículos, motos e peças, fazendo-o crescer 4,9% no mês passado, a maior alta mensal desde agosto de 2011. Além disto, o Dia das Mães também contribuiu para promover um bom desempenho da atividade varejista no mês passado, especialmente no segmento de móveis, eletroeletrônicos e informática."
Pelo que a Serasa disse, pelo menos uma das medidas que o governo adotou para alavancar o crescimento da economia, a redução do IPI dos carros, já começou a fazer efeito.
Além disso, se a produção industrial anda tão fraca como alardeiam por aí, o comércio, pelo visto, está, como virou moda dizer, bombando, nem que prescinda do produto nacional e tenha colocado nas prateleiras o importado para vender. Mas a gente precisa lembrar que o dólar não está mais a R$ 1,60 e sim a R$ 2, o que torna o importado caro. A conclusão óbvia é que o varejo está comprando da indústria nacional...
Seja lá o que for que esteja acontecendo, é só dar uma olhada no mundo real, esse que fica fora dos escritórios com ar-condicionado em que trabalham os nossos sábios "analistas" para ver que não há sinal nenhum de que a economia está fraquejando.
Segunda-feira de tarde, por exemplo, só se viam caminhões no Rodoanel. Tarde da noite, a Rodovia dos Bandeirantes, em direção a São Paulo, estava com duas vias cheias deles.
O centro de Jundiaí, cidade com mais de 400 mil habitantes a 60 km da capital, fervilhava de gente, havia filas nos caixas de algumas lojas e nenhuma delas estava vazia.
A economia brasileira pode até não crescer como se esperava antes que a crise dos países ricos desse sinais que iria durar mais que o previsto.
É natural que isso ocorra.
Mas daí a prever, como fazem esses analistas - geralmente empregados de instituições financeiras ou ex-integrantes de governos passados -, o fim do mundo, vai uma diferença enorme.
Um choque de realidade seria um ótimo exercício para eles. Duvido, porém, que eles se disponham a isso por uma razão bem simples: as ruas não têm ar-condicionado.

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