domingo, 3 de junho de 2012

O PIB e a felicidade


Nem bem os números do PIB do primeiro trimestre foram divulgados e uma legião de analistas, aqueles de sempre, apareceu para festejar o fraco resultado - eles nem escondem mais a satisfação de ver o Brasil se contaminar com a crise internacional, nem disfarçam mais o contentamento de constatar que as medidas do governo federal para alavancar a atividade econômica estão demorando para surtir efeito.
O PIB, vulgarmente definido como a soma das riquezas do país, pode até ser um indicador para medir a quantas anda esse organismo supercomplexo que é a estrutura socioeconômica de uma nação, mas certamente, e isso é o mais importante, não é o único.
Os nossos perspicazes analistas, pelo menos a grande maioria deles, se contentam apenas em olhar os números referentes à produção da indústria, da agropecuária, do setor de serviços, o chamado consumo das famílias e do governo, os investimentos, a exportação, a importação, essas coisas todas. Mas se esquecem que nem sempre os números, por mais exatos que sejam, por mais correta que tenha sido a pesquisa que os levantou, são capazes de mostrar a realidade de um país.
Há várias razões para isso.
Uma delas é o fato singelo de que por trás dos números estão os homens  - e eles não perdem a mania de ter opiniões, ideias, desejos, de carregar dentro de si paixões e idiossincracias. Assim, nem sempre 2 mais 2 são 4, ou um copo está meio cheio, quando deveria estar meio vazio.
Outro motivo para se desconfiar da fiabilidade desses indicadores é que eles apenas registram fatos econômicos, não mostram nada do maior tesouro de uma nação, que é o sentimento de bem-estar do povo e a sua confiança no futuro.
Não existe meio de se medir isso, apenas tentativas toscas, como o IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano, que acrescenta às estatísticas econômicas outras sobre educação, saúde, saneamento básico etc. Ou ainda ideias utópicas como a do rei do Butão, de se lançar um "Índice de Felicidade Interna Bruta", que tem se espalhado pelo mundo por meio de intelectuais mais ou menos sérios.
Quando penso que países que nunca foram potências econômicas produziram artistas, cientistas, pensadores e esportistas que influenciaram milhões de pessoas em todo o mundo mais me convenço de que essa história de querer reduzir uma nação a números é uma estupidez sem tamanho.
O homem precisa do trabalho tanto quanto precisa do lazer, da educação, da arte, dessas coisas, que, em suma, o distingue das bestas.
O resultado do PIB do primeiro trimestre foi decepcionante?
Ainda bem que isso ocorreu num país que vê a sua democracia se fortalecer dia a dia, que resgata milhões de pobres coitados da miséria absoluta e os transforma em cidadãos, que convive com todas as contradições inerentes à liberdade individual e cujos governantes apontam um caminho diferente do que foi traçado até pouco tempo atrás, que excluía a grande maioria da possibilidade de crescer econômica e culturalmente.
Só numa sociedade como a que temos hoje é possível discutir meios de melhorar os indicadores - todos eles, não apenas os econômicos.

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