Serra e os sabotadores

Serra: a bolinha de papel causou danos (Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Ao que tudo indica, com a campanha eleitoral para a prefeitura de São Paulo dando os primeiros passos, o velho Serra conhecido de todos nós está de volta, para o deleite de todos que acham que política também é diversão. O homem que, entre outros disparates, disse que o contágio da gripe suína se dava pela proximidade com os animais, agora nos dá indicações de que, como muitos supunham, entrou de vez no ramo da arapongagem. Nada difícil, já que estamos lidando com um tucano: como se diz, de noite todas as aves são pardas.
Pois bem, Serra se submeteu, nesta semana, a uma sabatina promovida pelo SBT e portal Terra. A repórter Cristiane Agostine, do "Valor", foi vê-lo em ação e assim anotou essa nova faceta desse homem multifacetado, um verdadeiro espírito da Renascença, tal a sua capacidade de se dedicar a tantas coisas ao mesmo tempo:
"Ao falar sobre as repetidas falhas nos sistemas do metrô e da CPTM (...) o pré-candidato do PSDB insinuou que há motivações político-eleitorais por trás das panes. 'Eu não descarto, numa parte, sabotagem, porque você sabe que uma porta aberta paralisa o trem. Se você puser um jornal, um pacote de jornal, uma gravata, você consegue parar', disse. Questionado se as supostas sabotagens teriam ligação com a eleição de outubro, respondeu: 'Com vistas à eleição. Eu não diria que é tudo não, entendeu? Você tem uma combinação de coisas. Quando eu fui governador teve problemas assim também.' Na sequência, Serra foi questionado sobre quem teria interesse nisso. 'Quem? É a oposição.'"
Taí, quem afora ele, poderia dar um diagnóstico tão preciso dos problemas do sistema de transporte urbano de São Paulo? O homem é fogo, mesmo. Só ele para ter acesso a segredos tão bem guardados, a mistérios tão profundos e inacessíveis. Para que gastar tempo e dinheiro investigando as causas das panes diárias dos trens da CPTM e do Metrô? É só perguntar ao Serra, que ele esclarece no ato qualquer dúvida: o trem quebrou? É sabotagem. O trem descarrilou? Culpa do PT. O trem parou? Culpa da oposição.
Mas vamos deixar de ironias, sejamos sérios. Na campanha passada, todos se lembram, Serra foi vítima de um atentado que lhe custou a remoção imediata a uma famosa clínica carioca, onde fez exames detalhadíssimos para averiguar os danos que uma bolinha de papel teria causado ao seu cérebro brilhante.
Agora, meses depois, estamos descobrindo que, de fato, os terroristas eleitorais conseguiram o seu intento: a mente notável desse não menos insigne homem público foi profundamente afetada. A bolinha de papel, criminosa, parece ter destruído toda a capacidade de raciocínio de um dos gênios da raça, um dos poucos que esta terra já conheceu.
Nossa sorte é que, mesmo assim, ele foi capaz de nos alertar para o perigo que esse sabotadores representam. É preciso, então, detê-los, antes que espalhem pelos ramais ferroviários da Grande São Paulo as suas armas de destruição em massa - jornais e gravatas - e ponham em risco todo esse maravilhoso sistema de transporte que os nossos competentíssimos governantes tucanos construíram, em décadas de trabalho sério.
Serra é um forte, isso é um fato. Por isso, mesmo que saia desta eleição mais uma vez derrotado, saberá se reerguer para nos proporcionar, nas vindouras, momentos inesquecíveis, lições de vida - e muitas risadas.