quinta-feira, 24 de maio de 2012

Oh, que delícia de greve!


É uma discussão sem fim. Embora a greve seja um direito fundamental do trabalhador, assegurado pela Constituição, a paralisação em setores cujas atividades são consideradas essenciais tem alguns condicionantes, como o aviso antecipado de quando ela se iniciará e a garantia de que a população não será prejudicada. No caso do metrô paulistano, o que se viu na quarta-feira foi centenas de milhares de pessoas que passaram o maior sufoco para ir trabalhar, mais confusão no já caótico trânsito, uma manhã, enfim, ainda mais desastrosa na rotina de uma metrópole que vive na iminência de sofrer um enfarte.
No fim do dia, os metroviários chegaram a um acordo e aceitaram a proposta patronal. E encerraram a greve sem quase nenhum avanço em relação ao que lhes foi oferecido anteriormente.
Fizeram então uma greve irresponsável, sem propósito? Ou se engajaram num movimento cujo objetivo principal era simplesmente mostrar força, dar um recado à direção do Metrô e aos governantes da cidade e do Estado, que são, na verdade, os responsáveis pelo sistema de transporte urbano da Grande São Paulo?
Quem pode responder a essas perguntas são os próprios metroviários, uma categoria que, hoje, deve estar passando por um momento profissional delicado, devido à precariedade dos equipamentos com que trabalha e da responsabilidade de assegurar o funcionamento do sistema sob condições tão difíceis.
O problema todo de uma greve como essa é justamente ela ter ocorrido. Uma das vantagens do sistema democrático é justamente o fato de ele possuir uma série de instrumentos que possibilitam o mais amplo processo de negociação entre as duas partes, patrões e empregados.
Só os tolos, ou os mal intencionados, acham que alguém entra em greve porque gosta, porque ela faz bem, ou porque não existe nada melhor do que enfrentar, no caso dos metroviários, a fúria da educada polícia tucana,  a ira da população e a reprovação da imprensa.
Deve ser uma delícia.
Mas se numa democracia existem tantas possibilidades de diálogo, por que então o metrô parou?
O jeito mais fácil de responder a essa pergunta é culpar os trabalhadores, acusá-los de intransigência, de fazer política partidária em ano de eleição, dizer que são irresponsáveis, essa coisas todas que saem facilmente da boca dos Geraldos e dos Gilbertos que mandam e desmandam nas terras paulistas.
Cá por mim prefiro acreditar que o metrô parou porque os Geraldos e Gilbertos, embora tenham sido eleitos num processo democrático, tenham crescido politicamente num ambiente democrático, usem as instituições democráticas como escudo para todas as suas ações, não são verdadeiros democratas, não sabem dialogar com quem tem opiniões diferentes das suas, e são incapazes de entender a dinâmica das relações de uma democracia, que se baseia numa só palavra: negociação.
É simples assim: se os Geraldos e os Gilbertos soubessem negociar, o metrô não teria parado e a população da cidade não teria sofrido nada além do que diariamente já sofre.

Um comentário:

  1. Fico pensando o que se passa na cabeça dos legisladores.
    Se uma greve não parar um serviço, pra que ela serve? Pra nada!
    E aí o poder de pressão dos trabalhadores contra os empregadores é zero, não é?

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