terça-feira, 29 de maio de 2012

A caixa-preta das montadoras


Se a presidente Dilma fizer o que a Folha diz que ela pretende fazer, abrir a caixa-preta das montadoras, ganhará mais alguns pontos na coluna de créditos do meu caderninho de avaliação do governo.
Esse é um dos segredos mais bem guardados do país. Ninguém sabe ao certo quanto é o lucro das montadoras. Desde que elas se instalaram em terras brasileiras o mistério permanece.
E mesmo assim, sem que se saiba se a margem de lucro é de 5%, 10% 200% ou 1.000%, basta os empresários encenarem a tragicomédia de sempre - as vendas caíram, os estoques aumentaram - para que o governo saia em seu socorro, concedendo generosas isenções tributárias.
É preciso lembrar que nesse teatro mambembe os atores não são apenas os empresários. Como coadjuvantes estão os metalúrgicos, que endossam todas as queixas dos patrões, e a imprensa, que se encarrega de fotografar os pátios das fábricas cheios e a registrar todo o chororô sem nunca perguntar sobre o essencial dessa história toda: e as margens de lucro, a quantas andam?
O problema é que boas intenções o inferno está cheio. Não basta a presidente dizer que quer saber tim-tim por tim-tim sobre a contabilidade das empresas. Um pedido não é suficiente. Os empresários vão rir na sua cara. Ela terá de obrigá-las a abrir a caixa-forte que guarda o segredo. E a dúvida que fica é como poderá fazer isso, se as montadoras são empresas de capital fechado.
Bem, esse é um problema para a área jurídica do Executivo. Alguém deve ter uma solução adequada para ele. O importante é saber com detalhes porque os carros fabricados no Brasil são tão caros, se é pela carga tributária, como alegam os fabricantes, ou simplesmente pelo lucro excessivo.
Felizmente, ao que parece, o governo se deu conta de que não pode mais ficar concedendo benefícios e mais benefícios a um setor que, ao primeiro sinal de dificuldade, começa a usar da chantagem, com a ameaça de demissões, para conseguir o que quer.
É preciso que, a cada isenção tributária corresponda uma contrapartida. Isso é o lógico, o mais justo, o correto. Querem que o IPI seja menor? Pois bem, além de baixar esse tantinho do preço para vender mais, que tal equipar o veículo com itens de segurança, como air-bags e freios ABS? Ou se comprometer a lançar, dentro de determinado prazo, um carro que polua menos e gaste menos combustível? Ou então, que contrate mais funcionários?
Ainda está na hora de mudar essa cultura de capitalismo sem riscos da indústria automobilística brasileira. O caminho é longo e difícil, mas vale a pena ser percorrido.

Um comentário:

  1. O caminho não é longo.
    Nem dificil.
    Todos já conhecem as jogadas e desculpas, só falta vontade politica.

    E descobrir quem ganha, além das montadoras...com isso.

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