sábado, 21 de abril de 2012

O importante é competir


A melhor notícia dos últimos tempos para os brasileiros ainda está acontecendo. Trata-se da queda do spread bancário, a diferença entre o que os bancos pagam aos clientes nas aplicações que eles fazem e o que é cobrado nos empréstimos - para simplificar, os juros dos empréstimos, seja lá em que modalidade for, cheque especial, crédito direto ao consumidor, crédito consignado...
A redução se dá devido ao movimento iniciado pelo Banco do Brasil e Caixa, depois de ordens explícitas da presidente Dilma Rousseff para que as duas instituições reduzissem suas taxas.
Os maiores bancos privados do país - Bradesco, Itaú, Santander e HSBC - reagiram de imediato dizendo que não teriam condições de acompanhar BB e Caixa se o governo não lhes oferecesse contrapartidas.
Artigos de "especialistas", recheados de argumentos estapafúrdios, foram publicados nos jornalões, assim como vários "analistas" econômicos expuseram suas opiniões de que o governo iria quebrar a cara com a ousadia de querer mexer com os juros bancários.
Não demorou nem uma semana, porém, para que a banca privada acompanhasse as medidas das instituições federais. O número de clientes dispostos a trocar de lado assustou os banqueiros. Pela primeira vez na história eles viram o que é competir num mercado capitalista - até então, agiam como um oligopólio, determinando, num acordo informal (ou formal?) um piso para as tarifas e juros que cobrariam - e pagariam - aos seus clientes. Tudo combinado, tudo certinho.
Exatamente como faz, por exemplo, a indústria automobilística.
Não é à toa que seus balanços exibiam lucros sucessivos, da ordem de bilhões de reais.
Ainda é cedo para dizer que o país finalmente entrou numa nova era nas relações de consumo. Mas já dá para ver o quanto a competição faz bem para o sistema capitalista em que vivemos - ela exige competência, transparência e  inovação.
Na outra ponta, também o governo dá exemplo de que pretende estimular ainda mais o mercado interno, ao promover mais uma queda da taxa básica de juros, a Selic, para 9% ao ano, o que dá juros reais de menos de 4% anuais - ainda uma enormidade, mas extremamente baixos para os padrões históricos do país.
E se a gente lembrar que a cotação do dólar em relação ao real está na casa de R$ 1,80 e a inflação parece estar controlada, surge um quadro promissor para o restante do ano em termos econômicos.
É possível imaginar uma viagem, como se dizia antigamente, em "céu de brigadeiro", para o Executivo, principalmente se ele não se deixar influenciar pelo clima pesado do Legislativo, que rema em águas revoltas, originadas pelo turbilhão causado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira e suas relações carnais com uma plêiade de políticos acima de qualquer suspeita.
Mas isso é uma outra história, muito mais triste, cujo final ainda está muito distante.

Um comentário:

  1. Banqueiros se defendem, dizendo que o spread é alto para compensar perdas com devedores duvidosos - aliás, devedores que eles mesmos aceitaram. Mas vá lá que seja... Pois vale ler o que diz o relatório mais recente do BC sobre quantos são esses inadimplentes, para se calcular se o risco é tão grande como dizem: "A taxa de inadimplência do crédito referencial, referente aos atrasos superiores a 90 dias, manteve-se estável em 5,8%, após manutenção dos patamares referentes às operações com famílias e empresas em 7,6% e 4,1%, respectivamente".
    Ou seja, em 100 empresas, 4 estão em atraso aos bancos. E em 100 famílias, menos de 8. Apavorante, não é mesmo?

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