Serra e Alckmin: numa sinuca de bico (José Cruz/ABr) |
É um paradoxo: José Serra pode vencer a eleição paulistana e mesmo assim sair dela enfraquecido.
O ex-governador tucano, uma das figuras de proa da direita tupiniquim, deve estar vivendo momentos de grande angústia pessoal. O sai não sai candidato desses últimos dias tem mesmo jeito de não ser um mero jogo de cena para atrair os holofotes para si: Serra está mesmo na posição que o populacho chama de "sinuca de bico".
A explicação para o seu dilema é simples: se decidir não sair candidato para continuar seu trabalho de bastidor para concorrer, em 2014, novamente à Presidência, que é o que mais deseja, corre o sério risco de ficar esquecido pelos eleitores; se escolher disputar a prefeitura e perder, será o desastre absoluto; e se ganhar, não poderá, por motivos óbvios, abandonar o barco, como fez recentemente - o eleitor é capaz de perdoar uma traição, mas duas...
Se o problema de Serra já é suficiente para que ele perca o pouco de cabelo que lhe restou, nem se fala então do PSDB paulista.
O partido, teoricamente controlado pelo governador Geraldo Alckmin, enfrenta uma crise seríssima de falta de rumos, de quadros, e até de convicções, pois sabe apenas quem é o seu adversário, seu inimigo, mas não tem a menor ideia de quem sejam os seus amigos - o DEM minguou para a mais completa inexpressividade no Estado, o recém-fundado PDS visita variados balcões em busca da melhor oferta.
O vexame só não é mais completo porque a imprensa insiste em embrulhar as notícias do campo tucano com os papéis mais coloridos e vistosos que existem, para disfarçar um conteúdo ordinário e sem valor.
No lado de lá, petistas e peemedebistas observam o movimento ainda perplexos, quase paralisados de surpresa. Certamente, não esperavam por tanta confusão, aguardavam um cenário mais tranquilo.
Lula, com sua intuição política, tentou uma jogada arriscada, que foi aproximar o PT do PSD, para repetir a fórmula de uma coalisão com a centro-direita que o levou duas vezes à Presidência. Mas tudo indica que sua jogada falhou. Seu plano B é convencer o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, vice-presidente da República, a formar uma aliança com o PT nessas eleições. Lula acha que, se Serra sair, a eleição ficará polarizada entre PT e PSDB, sem chances para o PMDB.
Temer pode até topar, o difícil será dobrar o candidato do partido, o deputado federal Gabriel Chalita, que realmente acredita que tem chance de se tornar o próximo prefeito paulistano.
O quadro sucessório de São Paulo será definido dentro de pouco tempo. E a partir daí começará uma campanha que tem todos os ingredientes para se tornar uma das batalhas mais renhidas dos últimos tempos, pois marcará, no lado tucano, a própria sobrevivência do partido como peça relevante da política nacional, e no campo petista, um capítulo importante no seu desejo de expandir e prorrogar seu projeto de poder.
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