terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Privatização e privataria


Já que o assunto do momento é a privatização - ou privataria, como é mais apropriado falar -, fiz um esforço de memória para tentar lembrar do tempo em que não existiam essas empresas todas que hoje desfrutam deste imenso mercado consumidor por obra do milagre tucano de repartição das riquezas.
É o caso, por exemplo, da telefonia. Na cidade de São Paulo pré-privataria a gente era obrigado a esperar um bom tempo para conseguir uma linha telefônica. Havia bairros em que a espera era mínima, questão de dias, e outros em que a instalação demorava meses. Havia ainda um mercado paralelo, que se encarregava de suprir as deficiências da Telesp. A linha telefônica era cara, ao ponto de  algumas pessoas aplicarem seu dinheiro nelas. Muita gente lucrava um bocado nesse comércio.
Para suprir esse déficit, principalmente nos condomínios, chegou a haver centrais telefônicas que dividiam uma única linha entre os apartamentos, numa espécie de PABX gigantesco. A coisa funcionava, mas exigia paciência: às vezes era impossível conseguir fazer uma ligação.
O problema da escassez de linhas foi contornado, em parte, quando a telefonia celular teve início. O mercado funcionava do mesmo jeito: existia o oficial e o paralelo. Os aparelhos eram grandes e pesados, mas quebravam um galho. O problema era o preço: custavam uma nota!
O tempo passou, a Telesp acabou, os tucanos fizeram a privatização da telefonia, muitas fortunas foram criadas, a telefonia celular tomou conta do país inteiro, a telefonia fixa foi encolhendo, as chamadas "teles", que dividem entre si o território nacional, ampliaram seus negócios com o surgimento da internet, quase todo mundo hoje tem telefone.
Mas o serviço é satisfatório? Claro que não. As telefônicas estão no topo da lista de reclamações. As tarifas são caras, o serviço que prestam é abaixo da crítica, os investimentos para manutenção e ampliação da rede são feitos a conta-gotas. As teles representam o que há de pior neste capitalismo oligopolizado, em que meia dúzia de empresas dividem um mercado imenso.
O que aconteceu com a telefonia ocorreu, com algumas diferenças, em todos os outros setores privatizados. Em nenhum se conseguiu a excelência apregoada na época em que passaram à propriedade privada.
A privatização é então um mal em si?
Acho que não, acho que depende de como é feita. O mais importante é que o Estado continue a ter o controle  do que as empresas fazem, para evitar que os serviços públicos virem essa bagunça que são hoje.
Pois privatização é algo bem diferente de privataria.

Um comentário:

  1. Gostei da sua análise.
    Só faltou o senhor
    falar sobre a Empresa
    Brasileira de Correios
    e Telégrafos, sucateada
    durante os anos dourados
    do jeito petista de
    desgovernar...

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