domingo, 4 de dezembro de 2011

O mundo ideal dos patrões


O novo passaralho no Estadão, dias depois das bicadas que destroçaram não se sabe quantos na Editora Globo, que, por sua vez, foram antecedidas pela passagem da Carniceira pela redação da Folha, mostra que os empresários do setor de comunicação não estão para brincadeira.
Em poucos meses, mais de cem jornalistas foram demitidos. Não sei quantos deles tinham diploma de curso superior específico da função. Sei apenas que a decisão do Supremo Tribunal Federal que, em 2009, na prática acabou com a profissão de jornalista contribuiu muito para essa carnificina.
A notícia de que o Senado aprovou, em primeira votação, a PEC que reinstitui a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício profissional provocou, mais uma vez, a formação de uma frente única do patronato para evitar que os jornalistas tenham um mínimo de organização, pois como se sabe, não faz nenhum sentido a existência de um sindicato se não existe uma categoria que ele possa representar.
A verdade é uma só: os patrões não querem que existam jornalistas porque o mundo que idealizam é aquele no qual eles podem contratar qualquer um pelo salário que quiserem, sem serem obrigados a, sequer, pagar um piso, e, do mesmo modo, fazer quantas demissões julgarem precisas para manter seus lucros sem dar satisfação a quem quer que seja.
Essa história de que eles estão lutando pela liberdade de expressão é a maior mentira que existe. Até hoje, em nenhum momento os jornais deixaram de publicar o que bem quiseram. A tal liberdade de expressão que tanto dizem prezar nunca existiu para eles. No Brasil, o que há é um oligopólio no setor de comunicação: algumas poucas famílias, à frente de grupos empresariais, controlam as informações que são levadas ao público. A mais feroz censura é exercida por eles. Só publicam o que querem.
Além disso, para tais grupos, a única função das suas empresas é gerar lucro. Não existe nenhuma preocupação social, ou até mesmo com os mais elementares princípios do jornalismo.
A decisão do Supremo de acabar com a profissão de jornalista foi uma decorrência de anos e anos de uma intensa campanha dos patrões.
A lei que regulamentou a profissão, em plena ditadura militar, foi uma conquista histórica da categoria, que brigava por isso desde que o jornalismo passou a ter importância na sociedade brasileira.
Não dá para entender que, em pleno século XXI, depois de tantos avanços sociais à custa de muita luta e sofrimento, exista quem defenda, fora do campo patronal, a desregulamentação completa de um setor vital para o país como o da comunicação.
Equiparar, como fez o ministro do Supremo Gilmar Dantas, um jornalista a um cozinheiro, não é só sinal de um cinismo que retira do autor da frase toda a autoridade moral para exercer a sua função na magistratura. É também sintoma da mais profunda ignorância sobre questões aparentemente complicadas, mas muito simples em sua essência.

Um comentário:

  1. 2 ADENDOS:

    - Esqueceu de citar na sua crítica aos patrões os serviçais pelegos de-
    les, o pessoal de recursos humanos.

    - Quanto a falta de diploma, o fato
    do ex-jogador neto apresentar um
    programa esportivo diz tudo.

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