Pelo Samba na Gamboa já passaram os mais importantes cantores e músicos brasileiros. É um oásis em meio à ruindade geral da televisão. E um exemplo de como se pode usar a televisão para, ao mesmo tempo, entreter, informar e educar.
Não é preciso muito para que isso ocorra: basta um mínimo de vontade. E bastante talento.
Beth Carvalho, depois de algum tempo de molho, mostrou que volta com tudo à cena artística do país. Lança disco novo, aparece no Samba da Gamboa cantando e tocando cavaquinho e dá show em entrevistas. A que o IG fez com ela merece ser lida na íntegra. Mas para quem está com pressa, aí vai um trechinho:
iG: Aqui na sua casa há várias imagens de Che Guevara e de Fidel Castro. Acredita no modelo socialista?
BETH CARVALHO: Eu só acredito no modelo socialista, é o único que pode salvar a humanidade. Não tem outro (fala de forma enfática). Cuba diz ‘me deixem em paz’. Os Estados Unidos, com o bloqueio econômico, fazem sacanagem com um país pobre que só tem cana de açúcar e tabaco.
iG: Mas e a falta de liberdade de expressão em Cuba?
BETH CARVALHO: Eu não me sinto com liberdade de expressão no Brasil.
iG: Por quê?
BETH CARVALHO: Porque existe uma ditadura civil no Brasil. Você não pode falar mal de muita coisa.
iG: Como quais?
BETH CARVALHO: Não falo. Tem uma mídia aí que acaba com você. Existe uma censura. Não tem quase nenhum programa de TV ao vivo que nos permita ir lá falar o que pensamos. São todos gravados. Você não sabe que vai sair o que você falou, tudo tem edição. A censura está no ar.
iG: Mas em países como Cuba a censura é institucionalizada, não?
BETH CARVALHO: Não existe isso que você está falando, para começo de conversa. Cuba não precisa ter mais que um partido. É um partido contra todo o imperialismo dos Estados Unidos. Aqui a gente está acostumada a ter vários partidos e acha que isso é democracia.
E por aí vai. Para quem acha que a música brasileira é apenas o nhem-nhem-nhem das vozinhas dessas cantorzinhas novinhas e bonitinhas que disputam audiência com o mais fétido lixo produzido pela indústria de entretenimento americana, taí a madrinha do samba para desmentí-los.
Sua voz amplifica a de milhares de criadores populares, esses sim a autêntica face de um Brasil que, como diz o samba de Paulo Vanzolini, "não fica no chão, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima", a cada tombo que leva.
Programas como o Samba na Gamboa, artistas como Beth Carvalho e tantos outros que estão na batalha cotidiana é que fazem o Brasil ser o que é, nada mais, nada menos que uma terra destinada a se destacar entre todas, pois carrega em si o gene da criatividade.
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