quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Historinha de vida
Quando tinha uns quatro anos de idade, caí de cama com uma febre danada de alta e uma baita dor nas costas. Meus pais correram para chamar um dos únicos pediatras da pequena Jundiaí de então, fim dos anos 50. Ele foi até nossa casa e disse que eu estava apenas com uma gripe forte. Passados alguns dias, como a tal gripe não ia embora e eu piorava, meu pai correu novamente para chamar o tal pediatra. Ele estava numa festa, o capitão Accioly praticamente o obrigou a sair de lá para ir me ver. Meio chumbado, cheirando a uísque, o tal pediatra manteve o diagnóstico e ainda falou para a minha mãe o seguinte:
- Se a senhora tivesse mais filhos, não iria se preocupar com essa gripezinha desse aí.
Foi depois disso que meus pais foram em busca de outro médico, o dr. Nicolino de Lucca, conhecido por Jundiaí inteira.
Ele chegou, entrou no quarto, fez um exame superficial e decretou:
-Esse menino está com pneumonia.
E pleurisia, constatou um exame mais detalhado.
E lá foram uma semana no balão de oxigênio, 20 dias de cama e não sei quantas injeções de penicilina - isso mesmo, penicilina, que era o único antibiótico naquela época.
E assim consegui sobreviver - graças ao desvelo de meus pais e à competência do bom dr. Nicolino.
Conto aqui essa historinha porque percebi que algumas pessoas de quem gosto muito, médicas por profissão, ficaram incomodadas pelo que escrevi anteontem sobre alguns mercenários de branco. Em minha defesa quero dizer que não pretendi generalizar: claro que, como em todas as profissões, há os bons e os maus, os competentes e os incompetentes, os que se dedicam com extremo zelo ao seu ofício e aqueles que simplesmente veem nele um modo de engordar a conta bancária.
No jornalismo, por exemplo, há quem viva de jabás e quem perca a saúde, como o meu amigo da crônica de anteontem, depois de anos e mais anos de trabalho pesado, muito além das horas regulamentares.
Minha única preocupação é que a medicina não perca de vista que antes de qualquer progresso técnico, de qualquer medicamento milagroso, de qualquer aparelho de última geração, o mais importante para o bem-estar do paciente é ser atendido por alguém que carregue a compaixão no bolso de seu jaleco e a exiba sempre que for preciso.
Isso pode soar um tanto piegas, mas é que, no fundo, sou mesmo um sonhador.
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Um sonhador, mas não o único...
ResponderExcluirTambém eu, agradeço ao Dr Nicolino. Sem ele, agora, não teríamos as suas crõnicas Motta