segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O buraco é mais embaixo



Já devo ter tocado nesse assunto não sei quantas vezes, mas a cada entrevista que leio de certas "autoridades" estaduais sobre ele, mais me convenço que não existe nada mais emblemático, nada mais representativo da incrível incompetência dos tucanos do que o metrô de São Paulo.
Desta vez foi o próprio secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, que admitiu, sem nenhuma cerimônia, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo, que a Linha 4, aquela do buraco que matou sete pessoas, que já está atrasada uns cinco anos, vai demorar ainda mais para ficar pronta.
Outra pérola do sr. Jurandir foi dizer que a superlotação nas estações dessa linha, inauguradas há apenas alguns meses, não tem solução breve e é um problema que deve perdurar até que uma outra linha de um número que não me lembro qual, esteja pronta, sabe-se lá em que século futuro.
Sei que não deveria mais ligar para as impropriedades que essas "autoridades" dizem, mas como sou obrigado a viver numa cidade em que o transporte público é absolutamente inepto e em que a locomoção das pessoas se transformou num calvário, numa tortura cotidiana, sinto uma espécie de compulsão em voltar a esse tema.
Antes, via essa dissociação da realidade mostrada por essas pessoas como apenas resultante da falta de preparo, da própria limitação que marca certos "técnicos" que cuidam de setores da vida urbana e da ausência de sensibilidade característica de uma geração de governantes forjados na ética neoliberal.
Agora, porém, cansado de assistir a esse festival de horrores que se tornou o ofício de administrar uma das maiores aglomerações humanas do planeta, sou obrigado a acreditar que o problema dessa gente é muito mais sério e envolve questões que talvez apenas alguns poucos bem-sucedidos profissionais da área médica podem cuidar. Como sou leigo no assunto, não arrisco um diagnóstico para o mal que ataca tais indivíduos, embora os sintomas sejam evidentes e falem por si só.
Não deveria, mas de certa forma sinto pena dos habitantes desta cidade, que são obrigados a conviver com um nível de degradação intolerável dos serviços públicos.
Digo isso porque, numa democracia como a nossa, quem elege os Kassabs e os Alckmins não são apenas os ricos ou os da classe média. Os pobres, esses que, no fundo, são os que mais sofrem com tais barbaridades, também ajudaram a dar o poder a políticos desse tipo.
É incrível que a população não saiba que gente como o tal Jurandir Fernandes, ou como os seus superiores e seus subordinados imediatos, não estão nem aí para o inferno que é viver em São Paulo, pois não andam de trem, nem de ônibus, muito menos de metrô, vivem protegidos em seus bunkers, respiram o ar de uma realidade que só existe numa outra dimensão.
Em dias de calor, eles não suam, em dias frios, eles não se resfriam, pois se acham sempre imersos no ar-condicionado da indiferença.

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