segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A lição de vida do Ademir

                                                                                                         Renato Araújo/ABr

A doença do ex-presidente Lula fez muita gente refletir sobre como é frágil a condição humana, sobre como o inesperado é capaz de guiar o nosso destino - e outras tantas questões afins.
Está certo que Lula é um lutador, que já venceu muitas dificuldades em sua vida etc e tal, mas como diz o ditado, cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
Por isso, o nosso sincero desejo é que ele se cuide, siga direitinho o que a equipe médica mandar, tome os seus remédios na hora certa para que depois, restabelecido, volte a ser aquele simpático falastrão que vive a espalhar doses gigantescas de esperança para o povo brasileiro.
Também, que enfrente a vicissitude com o astral leve, otimismo e bom humor - afinal, rir é o melhor remédio, não é que diz o povo - sempre ele - e a "Seleções do Reader's Digest"?
Há alguns anos, o jornalista Ademir Fernandes, um dos melhores profissionais com quem trabalhei e figura humana extraordinária - um dia alguém com mais competência que eu explicará o que isso, no caso do Ademir, quer dizer - ficou doente, muito doente mesmo, mas nem por isso deixou de ser o mesmo Ademir de sempre, bem-humorado, sempre com um trocadilho engatilhado, sempre com uma tirada de gênio a nos deixar atônitos - como é que alguém podia ter um raciocínio tão rápido, tão afiado, tão atento a detalhes?
Pois bem, tão logo saiu do hospital, o Ademir escreveu uma crônica para informar às centenas de amigos que ansiavam por notícias suas como é que se encontrava.
Como faz muito tempo que ela foi publicada e como uma onda de baixo astral cobre o Brasil hoje, achei que seria oportuno oferecer aos amigos leitores essa pérola do Ademir, uma lição de vida, um tesouro que compartilho com todos na esperança de que sirva para levantar de vez o  moral da tropa. Aí vai:

A RETIRADA DO TUMOR LESTE
(Relato de uma aventura hospitalar)
Por Ademir Fernandes 


 Entrei na sala de cirurgia como Ademir Fernandes e saí de lá nove horas depois como Rimeda Sednanref (me viraram pelo avesso). Mas a operação em si foi perfeita - Armando Nogueira diria que o bisturi do esculápio deslizou como uma pluma pelas judiadas entranhas do adelgaçado paciente. E bota adelgaçado nisso. Perdi tanto peso que meu e-mail ficou sem a arroba - acabou virando ademirquilonetwave.com.br...
Aos que se surpreendem com o meu novo visual, limito-me a explicar que segui as dicas daquele livro do Jorge Amado, “Dieta do Agreste”. 
Na fase pós-operatória, tudo foi bem enquanto estive internado, durante 14 dias. Depois disso, já de volta para casa sem o esôfago e com tudo redesenhado - estômago mais pra cima, cólon mais pro lado senão não sai na foto, etc., etc., começou o drama. O metabolismo foi alterado quase que totalmente, passei a sentir fortes crises de náusea só de olhar para alimentos que eu sempre gostei de comer. A overdose de remédio era tão grande que, ao ser apresentado a alguém, eu ia dizendo “muito Plasil”. Ligava o rádio na Jovem Buscopan e logo ouvia aquela musiquinha: “Vê, estão voltando as dores...” E, quando a enfermeira aparecia com a bandeja de curativos, a lembrança de um velho grupo musical carioca era inevitável: Quatro Gases e uma Seringa...
Na fase mais delicada, cheguei a dar uma espiadinha no outro lado da vida e notei que lá também funciona 24 horas por dia e aceitam cartão de crédito e pré-datado. A novela de maior Ibope é “Andando nas Nuvens”, e a turma das profundas curte muito o "Capeta & Planeta Urgente". O pessoal mais nostálgico curte a Rede Vida. Na literatura, o bambambã é o Jorge “Alado”. No futebol, muitas almas torcem pelo Santos, outras pelo São Paulo e algumas pelo Santo André. Na área econômica, os anjos carentes têm direito a uma linha especial de crédito para aquisição de “asa” própria. O dinheiro grosso, no entanto - soube-se via “Infernet”-, rola bem mais embaixo. A diabada está enchendo os cofres com a proliferação dos famigerados “peque-e-pague”. Por via das dúvidas, achei melhor voltar rapidinho pro lado de cá. Já pensou se algum comando celestial me pega sem porte de “alma”? 
É isso aí. É muito bom estar de volta pro lado de cá. E agora eu decidi trabalhar num ritmo mais moderado. Afinal, como diz o Robocop, ninguém é de ferro!

4 comentários:

  1. Esse Ademir é aquele que o Coelho chamava de "Bzzz, bzzz, bzzz"?

    ResponderExcluir
  2. Valdir,
    não me lembro do apelido que o Coelho deu ao Ademir.
    Também pudera: o Coelho botava apelido em todo mundo que conhecia!
    De alguns ainda me lembro: Chocolate, Estilingue, Menino Lobo, Homem de Palha, Peixe Galo...
    Mas a maior lembrança é a lista de "retardados", aqueles que ele não suportava e dos quais era obrigado a se proteger, atrás do balcão do boteco em que estava.
    Grande abraço,
    Motta

    ResponderExcluir
  3. Motta, há uns 10 dias mais ou menos enviei um comentário a respeito do artigo ref. nosso saudoso colega e amigo Ademir Fernandes, mas até agora não saiu. Você recebeu? O que houve ?
    Abraços,
    Carlos C Abumrad

    ResponderExcluir
  4. Oi, Carlinos,
    o seu comentário foi publicado em outro artigo, acho que aquele sobre a PEC dos jornalistas.
    Um grande abraço do amigo,
    Motta

    ResponderExcluir